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ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 17h11ROMANCE LUIZ E LUICA

Aqui inicio o livro / romance de LUIZ e LUICA :

 

A história é toda contada em primeira pessoa, por minha mãe, Luiza Catarina, apelido LUICA.

Por esse motivo, coloco sua fala entre aspas.

 

Capítulo 1 :

Corria o mês de dezembro de 1954. Ao entardecer, uma menina de treze anos de idade, sonhadora e em toda plenitude de sua adolescência, andava numa praia , solitária.

Olhando o por do sol, quando o céu com todo seu esplendor assumia a cor avermelhada, rabiscava na areia úmida, frases e versos que as ondas do mar levavam. Essa menina, era simplesmente LUICA.

" Enebriada em meus sonhos e castelos, ouvindo o barulho do mar, chutando as pequenas ondas que em meus pés batiam, de repente vi  ao longe outra figura solitária. Aos poucos ele foi se aproximando, nos entreolhamos, sorrimos um para o outro, e ficou apenas num aceno de mão.

 Não sei porquê, aquele rapaz magro e de feições tão jovens como as minhas, me chamou a atenção. Voltei para casa radiante e o príncipe dos meus sonhos, tomava forma naquele jovem.

Naquela noite, vendo as estrelas, imaginava-me morena, pequena, frágil até demais, cabelos curtos, sobrancelhas cerradas, vestindo uma calça jeans velha, arregaçada até o joelho, e descalça, pudesse chamar a atenção de alguém.

Os dias se transcorreram e com eles, novos olhares, novos sorrisos, novos acenos. Nada parecia passar disso . Qual não foi a minha surpresa, quando na véspera de minhas férias acabarem, o jovem veio falar comigo.

Muito tímido a princípio, perguntou meu nome, onde morava e eu toda nervosa, com as mãos transpirando, mal conseguia responder.

Ele tinha somente 17 anos, e chamava-se Luiz Antonio, a única coisa que consegui ouvir. Sentamos num toco de árvore e aos poucos , nossa conversa foi crescendo, tomando formas íntimas e claramente sinceras. Sem que percebêssemos, estávamos sonhando juntos e em voz alta, um futuro feliz.

Ali mesmo, ele me disse que um dia nos casaríamos, e como gostava muito de criança, planejamos o nome do nosso primeiro filho e por incrível que pareça, tínhamos a absoluta certeza que seria uma menina.

Rindo e brincando , perguntamos um ao outro o nome de nossas mães e tentamos uní-los para darmos o nome a nossa filha. Era um tando difícil, pois ambas tinham nomes completamente diferentes a uma junção, ou seja, UMBÉLIA e HINA. Rimos muito, pois só conseguimos Umbelina, Belina e assim por diante. Resolvemos invertê-los e surgiu INABEL.

Foi uma das tardes mais felizes da minha vida, jamais a esqueci, embora o Luiz Antonio me contou que um amigo lhe dissera que " amor de praia a onda leva e não sobe a serra ", mas como em todas as regras existem as exceções. Deus fez com que as marés não subissem , atingindo aquele amor que começava e também subiu a serra.

Em maio de 1955, conseguimos nos reecontrar, e finalmente iniciamos nosso namoro, passando ele a frequentar minha casa. Ele já queria casar, embora fosse um simples office-boy de um banco e eu cursava o ginásio. Meu pai, inteligente como era, não se opôs ao namoro e não nos levando muito a sério, nos dizia que um dia poderíamos nos casar, mas ambos tínhamos que completar os estudos e nos fazer na vida. Logo em seguida, conheci a família do Luiz Antonio e iniciou-se uma amizade mais sólida entre nossas famílias. Luiz Antonio era órfão de pai desde os seus 2 anos de idade. Nosso namoro foi normal, igual a tantos outros. Brigas, ciúmes, passeios, bailes,etc.

Com tudo isso, 7 anos se passaram. Afinal, consegui me formar na escola normal e o Luiz Antonio já era procurador do Banco que trabalhava. Em setembro de 1961, o grande sonho de nossas vidas se tornava uma realidade , com uma grande festa, com muitos sorrisos, sem lágrimas, eu e Luiz Antonio , perante o altar, juramos nos amar e respeitar até que a morte nos separe, e acredito até na eternidade, até em outras vidas ..."

Continua o segundo capítulo nas próximas edições.

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SEGUNDO CAPÍTULO - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 17h10SEGUNDO CAPÍTULO - ROMANCE LUIZ E LUICA

Segundo Capítulo - Lembrando que toda a história é contada em primeira pessoa, por minha mãe, Luiza Catarina, apelido LUICA. Por isso , sua fala  coloco entre aspas.

 

" Eu era filha única de pai idoso e de mãe bastante jovem. Eu tinha uma personalidade muito falha, dominada pela minha mãe e com excesso de carinho do meu pai.

Por esse motivo, vejo hoje, que eu não estava ainda preparada para assumir as responsabilidades do casamento, e completamente imatura para uma futura maternidade.

Alguns anos depois, engravidei. Meu marido ficou radiante e feliz, e eu entrei em pânico. Não aceitava em hipótese alguma a ideia de poder ter uma terceira pessoa entre mim e Luiz Antonio. Tinha medo de ficar feia, pensava no meu corpo em primeiro lugar e com isso poderia perder o amor de meu marido.

Mal sabia eu que agindo assim, poderia perdê-lo mais rapidamente. Seguindo conselhos de minha própria mãe, pensava em não ter esse bebê.   Foi o primeiro espinho em nosso casamento.

Lembro-me como se fosse hoje, num sábado à tarde, quando Luiz Antonio chegava do clube, feliz e fazendo planos para o futuro do nosso filho. Não pensando em seus sentimentos, mas em mim, comuniquei-lhe minha decisão em não ter essa criança. Tivemos uma discussão terrível, onde ele me dizia que se isso eu fizesse, nosso casamento estaria acabado. Eu chorava, gritávamos e nos ofendíamos mutuamente.

Hoje não acuso minha mãe por me tentar levar a isto, pois o fazia por pura ignorância, porque ela também não tivera o devido preparo de meus avós. Meu pai não se encontrava em casa, e naquela mesma tarde recebi uma carta sua, na qual dizia que o motivo de eu estar grávida era sua felicidade e que a partir daquele instante nosso lar teria um novo REI ou uma nova RAINHA. Mal sabia meu pai que aquela carta e aquelas palavras, acabavam com minhas dúvidas, salvando a criança e meu casamento. "

 

Em breve,o terceiro capítulo...

 

 

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TERCEIRO CAPÍTULO - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 17h10TERCEIRO CAPÍTULO - ROMANCE LUIZ E LUICA

Lembrando que o romance é descrito em primeira pessoa, pela minha mãe, Luica, e sua fala coloco entre aspas.

 

Terceiro Capítulo - 

" Resolvi então assumir aquilo que Deus dá de mais belo à uma mulher.

Eu lecionava e tive uma gravidez perfeitamente normal.

Alguns meses depois, chegou o grande dia, nascia nossa primeira filha, tal qual sonhamos em nosso primeiro encontro. INABEL chegou ao mundo. Pequenina, feinha como toda criança, mas foi quem trouxe muitas alegrias a todos nós. Onde eu estava com a cabeça quando quis um dia tirar a vida daquela criaturinha ???

Nossa vida continuava a partir do nascimento da INABEL , como a de todos casais. Eu e meu marido trabalhávamos , e à noite ao chegarmos em casa, não sei qual dos dois mais dava atenção à INABEL e percebemos que ambos fazíamos tudo ao mesmo tempo, gerando muitas alegrias e por vezes alguns desentendimentos. Meu pai e minha mãe entravam nisso também, porque se sentiam um pouco donos dela.

Após nossa filha ter feito um aninho, resolvemos morar sozinhos. Montamos nosso próprio apartamento e nossa vida conjugal era maravilhosa. Luiz Antonio fora promovido a contador e eu passei a lecionar em dois estabelecimentos de ensino, como substituta.

Dinheiro não nos faltava , e com ele passamos a ter uma vida social bem intensa e em menos de um ano, Luiz Antonio foi promovido a sub gerente. Aquele jovem magro da praia, dia a dia foi se transformando, transformação física e de comportamento. Começaram a surgir novos amigos.

Quando não vinham em minha casa, o levavam para programas. Começava a me sentir só. Passava madrugadas inteiras esperando por ele, quando muitas vezes chegava ao amanhecer.

Chorando, lhe perguntava onde estivera e o mesmo me respondia que eu não tinha nada a ver com isso, que a vida era dele, que sabia o que fazia.

Ia lecionar desesperada, tentando disfarçar de todos que eu era infeliz. Tinha medo de me desabafar com meus pais, pois eles iriam contra meu marido. E como eu o amava, desejava resolver o problema sozinha. INABEL pouco via o pai e eu sabia que ela sentia sua falta , falta de sua presença em casa. Nova promoção surgiu para meu marido, a gerência. Cuja notícia não me deixou feliz.

Seu comportamento no lar piorou mais ainda. Ternos brilhantes, sapatos reluzentes, se preocupava apenas com sua aparência, considerando-se bonito e mais ainda, machão ao extremo rsrsrsr.

Mandava e não sabia mais pedir, gritava e não mais falava, sua opinião prevalecia, e sua palavra era a última.

Só falava em suas amizades importantes, clientes do banco, em dinheiro, lugares grã finos que frequentava, e se vangloriava por ficar rodeado de mulheres bonitas.

Quando eu tentava retrucar, me dizia que isto fazia parte de sua posição no banco, e que eu cuidasse das coisas referentes ao lar, pois para isto ele não tinha mais tempo. Eu me considerava o próprio objeto, fazia parte dos móveis e utensílios domésticos.

INABEL já estava com 3 anos , quando eu comecei a perceber que estava com algum problema de ordem visual. Já nem encontrava meu marido. Ia aos médicos sozinha e ao obter o primeiro diagnóstico, um dia tentei-lhe dizer, mas como não me dava mais atenção, me calei.

Nessa ocasião meu marido cismou que devíamos comprar uma casa, a fim de mudarmos de ambiente. Ele menosprezava nossos vizinhos humildes e dizia, como nossa filha iria crescer num lugar como esse ? E acreditem, morávamos num ótimo bairro em São Paulo,o Belenzinho ... afff.

Relutei, mas de nada adiantou. Não sabia como teria ele condições em comprar essa casa. Apesar de tudo, um dia me levou para conhecer o imóvel que escolhera, e por fim , contra a minha vontade, a comprou.

A partir daí, sua arrogância, sua insensibilidade, aumentaram.

Continuava comprando roupas caríssimas, tornando-se extremamente vaidoso, me obrigando a oferecer jantares em nossa casa a seus amigos importantes, quando fazia questão que a sofisticação predominasse, proibindo que meus pais e minha sogra aparecessem em casa nesses dias. "

 

Quarto capítulo nos próximos dias ...

 

 

 

 

 

 

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QUARTO CAPÍTULO - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 17h09QUARTO CAPÍTULO - ROMANCE LUIZ E LUICA

Lembrando que toda história é contada em primeira pessoa, pela minha mãe, por isso coloco sua fala entre aspas.

 

" Um dia conversando com um colega de meu marido, humilde, que começou com ele no banco como office boy, ( e não teve a mesma sorte que ele nas promoções), fiquei chocada ao saber que Luiz Antonio exigia ser chamado de SENHOR. Como um subalterno poderia se dirigir ao superior hierárquico sem chamá-lo de SENHOR. A elegância, o perfume, era muito mais importante que tudo mais e as noitadas continuavam. Ele realmente se achava o máximo.

Minha visão piorava gradativamente. Mas para que reclamar ? Ele pagava aos médicos o tratamento para a minha doença, uveíte. Notava que muitas coisas eu já não fazia sozinha, mas mesmo assim, continuava dando aulas, contando até com a ajuda dos colegas para a correção dos trabalhos e provas. INABEL crescia bonita e viçosa, embora muitos comentassem que era uma menina de olhos tristes.

Tudo continuava como antes, até que comecei a notar que algo estava acontecendo, mas não conseguia me situar. Chegava em casa e lá já encontrava meu marido, com ar bastante preocupado, quieto, tristonho. Que estranho !  Não tinha noitada hoje !, eu pensava. Percebi que alguma coisa ele tinha para me dizer, apesar que nada eu lhe perguntava, porque tinha sido obrigada a agir assim.

E assim me acostumei. Num determinado dia, se ofereceu para me levar à escola, dizendo-me que à tarde iria com INABEL me buscar. E foi nesse dia que me contou que havia tido uma discussão, briga feia com seu chefe , e como já sabiam de seu gênio forte até com outros superiores , não havia conseguido nem sequer uma transferência de agência. Quer dizer, o respeito que ele exigia de seus subordinados, não conseguia colocá-lo em prática no seu tratamento à própria chefia . Que ironia !

Estava desempregado. 

O homem nessa situação encontra-se acabado. Estava em depressão. E foi o meu AMOR, que o ajudou a se levantar. O amor daquela mulher que ele tanto desprezava no início do casamento.

Por mais que ele procurasse emprego, enviasse currículos, ele não encontrava. Ele não queria qualquer emprego, queria um que ainda sustentasse seus caprichos e a vida que tinha anteriormente.

Nessa mesma ocasião, tentei me efetivar por tempo de serviço, mas após laudo médico, além da uveíte , estava com glaucoma e consequentemente consideravam-me impossibilitada para exercer minhas funções escolares. Ficara afastada por licença  médica e com um rendimento muito baixo.

Todos os meus sonhos ruíram. Tivemos que vender a casa, a mesma casa que havia pedido ao Luiz Antonio para não comprar, há anos atrás.

Até hoje meu marido cita que ele se levantou, através do meu AMOR, da força e fé da mulher que ele havia menosprezado. E que o machão na hora que se vê  encurralado, torna-se covarde, sem forças para sair da fraqueza que fatalmente se apodera de tais indivíduos.

E esta força , diz ele ter conseguido com uma morena pequena, frágil fisicamente, mas muito grande espiritualmente.

É, o mundo dá voltas, aquele homem prepotente, hoje precisa de mim e está frágil. Ninguém é melhor que ninguém, e é nessa vida mesmo que pagamos o que fizemos .

Minha visão piorava e como o médico me dizia que pouca coisa poderia ser feita, eu e Luiz Antonio resolvemos ir para os Estados Unidos, para que eu tentasse encontrar algum tratamento que até me curasse ou retardasse minha cegueira.

E foi assim que resolvemos efetivamente ir para os Estados Unidos.

Não me seria fácil deixar quem me eram muito caros, meu pai inválido, por conta de um AVC, minha mãe , mesmo com todo seu domínio, nos apoiava e nos ajudou, e minha sogra com o seu grande otimismo. "

 

Quinto capítulo nos próximos dias ...

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QUINTO CAPÍTULO - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 17h09QUINTO CAPÍTULO - ROMANCE LUIZ E LUICA

 " Era o mês de novembro. Eu, Luiz Antonio e nossa filha embarcamos rumo ao desconhecido.

Sabíamos que não nos seria tão fácil vencer essa nova etapa, mas estávamos certos de que nos seria benéfico. Ao chegarmos em New York, apesar de uma tia minha estar nos esperando, tudo nos parecia estranho.

Parecia estarmos vivendo um sonho. Esta sensação durou apenas algumas horas , pois após o impacto da chegada, com sorrisos, beijos e abraçõs, minha tia nos comunicou que já havia arrumado trabalho para nós.

E lá, nos Estados Unidos, a maioria dos imigrantes só conseguem serviços braçais, operariado, não tem jeito, mas com um ganho muito mais valorizado que no Brasil.

No dia seguinte seríamos levados a uma casa de praia de ROCKWAY -BEACH, N.Y., a qual deveríamos pintá-la.

E isto aconteceu. Com pincéis, alguns galões de tinta, alguns gêneros alimentícios, lá fomos deixados.

Quão dura foi nossa primeira experiêcia naquele país estranho !

Não conhecíamos a língua, sozinhos nos encontrávamos, e mal sabíamos pegar no pincel.

Lá fora nevava fortemente, INABEL aproveitava para brincar, afundar seus pés na neve, fazer bolinhas e até um homem das neves.

Ficávamos na frente da janela da casa, eu fazia um café quente, e olhávamos os esquilos, sentindo já as saudades do Brasil.

Apesar de tudo , foi uma delícia, porque os três trabalhávamos unidos. Após algumas pinceladas, Luiz Antonio borrava todo o chão e eu ia atrás dele com uma espátula, conseguindo dar boas risadas. "

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SEXTO CAPÍTULO - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 17h08SEXTO CAPÍTULO - ROMANCE LUIZ E LUICA

" Olhamos para um canto e de repente vimos INABEL tentando pintar os rodapés. No fim do dia, tínhamos mais tinta em nossas roupas do que nas próprias paredes.

Tomávamos um banho, um lanche rápido e ficávamos conversando, e aos poucos estávamos fazendo planos novamente. O que um pintor profissional faria em uma semana, nós levamos mais de um mês. Finalmente conseguimos receber nosso primeiro pagamento.

Voltamos à casa da minha tia e meu marido arrumou sua documentação e conseguiu seu primeiro emprego efetivo. Jardineiro de cemitério, o MONTE HEBRON CEMITERY, da Cedran Grove Organitation. Como ainda nevava muito, mas era época de recrutamento de limpeza, colocação de pedras e outros trabalhos com gramas artificiais, por isso foi contratado com antecedência.

Trabalhava das 7 às 17h, e eu passei a cuidar da casa da minha tia com toda minha deficiência visual.

Somente dessa maneira, ou seja, meu marido trabalhando, e algumas reservas nossas, eu conseguia fazer minhas consultas médicas. À tarde, Luiz Antonio me contava suas experiências no cemitério, seus novos amigos e como ele era tratado. Conversas que nos últimos tempos, eu nem tinha mais com meu marido.

Cheguei a conhecer um desses novos amigos. Um velho polonês chamado Anton, que já havia vivido no Brasil, mas mal sabia falar o português.

Ele muito ajudou meu marido no início, incentivando-o naquele diferente trabalho. Alguns meses depois, o chefe do Luiz Antonio, o convidou para ser coveiro, vejam só, ganhando o dobro. Para nós aquilo representava muito, pois poderíamos alugar a nossa casa.

Quem diria, um homem que anteriormente obrigava seus subordinados a chamá-lo de senhor e mal acatava as ordens de superiores, arrogante, hoje se sujeitaria a um emprego que jamais aceitaria em outros tempos.

Todo trabalho é digno e isso meu marido já havia aprendido, que o mundo gira, ninguém é melhor que ningúém e como é importante uma pessoa ser humilde.

Durante todo esse tempo, trocávamos cartas com a família, com muita saudade.

Nos mudamos para nossa casa em seguida, e o Luiz Antonio assumiu seu novo posto no cemitério. Me recordo, como se fosse ontem, quando ele se dirigia pela primeira vez ao cemitério, sem saber se aguentaria tal serviço... "

E a casa da foto, juntamente um carro, meu pai conquistou com serviços braçais em New York.

 

Cenas do próximo capítulo nos próximos dias !

 

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SÉTIMO CAPÍTULO - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 17h07SÉTIMO CAPÍTULO - ROMANCE LUIZ E LUICA

" Tal cena está gravada em minha mente como se tivesse sido fotografada. Devia ser mais ou menos umas 5 horas da madrugada, quando saía de casa para trabalhar, um homem bem diferente daquele que conhecera no Brasil. Já não usava ternos brilhantes com sapatos reluzentes.

Suas roupas estavam surradas e nas mãos levava, em vez da pasta do executivo, uma malinha de couro contendo uma marmita. Eu e INABEL despedimo-nos dele naquela hora da manhã, orgulhosas, pois para nós, ele passara a ser um homem com H maiúsculo. O moleque, o bom vivant , o machão tinha morrido.

Durante o dia ,  eu já não trabalhava tanto como na casa da minha tia.

Tinha mais tempo para me dedicar a nossa filha. E a única coisa que me preocupava era a dificuldade que eu sentia em poder ainda procurar os médicos a fim de terminar meu tratamento.

Durante o jantar, Luiz Antonio continuava relatando suas experiências e dificuldades como coveiro, lembrando do primeiro dia nesse trabalho. Dizia-me ele . Assim que chegou ao cemitério, sem saber se conseguiria realizar tão duro trabalho, lhe deram um par de botas pesadas, um macacão grosso, um carrinho de mão, uma pá e picareta e mandaram através do Anton que ele fosse ao local onde iria abrir a sua primeira cova.

Pensava ele, que seu chefe iria lhe dar um tratamento especial, pois o APLICATTION / currículo informava o seu trabalho no Brasil.  E simplesmente seu chefe falou,  Let s go.

E Luiz Antonio contou-me que ao subir com o carrinho de mão com a pá e picareta, uma alameda grandiosa, cheia de árvores frondosas, em segundos , começou a sentir saudades daqueles colegas do banco, em que exigia tanto ser chamado de Senhor. 

Como realmente o mundo dá voltas.

 Lá ele passou a ser um número . Era simplesmente o nr 280 e lá não poderia exigir ser chamado de SIR 280. Ironias do destino, hein !

O trabalho era muito duro, pesado e exaustivo. E apesar de todos esforços, mal conseguia fazê-lo sozinho. Em suas narrativas, contou que , sem que pedisse, teve a ajuda e solidariedade de seus colegas porto riquenhos, povo humilde e marginalizado na América. Vejam só a tal ironia do destino, humildes , iguais àqueles nossos primeiros vizinhos que meu marido marginalizava aqui no Brasil. Meu marido teve amor, carinho e companheirismo , coisas básicas exigidas pelo ser humano, para a coexistência e sobrevivência. Que grande lição Luiz Antonio teve.

Essas mesmas criaturas passaram a frequentar nossa casa, e por esse motivo nossa filha passou a ser hostilizada por nossas crianças vizinhas genuinamente americanas, simplesmente pelo motivo do pai ser amigo de porto riquenhos e os recebia em nosso lar. Era dura essa situação, mas tínhamos que aceitar.

Aos sábados e domingos, para ganhar mais dinheiro, Luiz Antonio ajudava na demolição de prédios, muito comum nessa época, 1970, em Manhattan, centro de New York. Nesse meio tempo, uma brasileira recém chegada aos Estados Unidos, nos trazia algumas encomendas dos nossos parentes e por coincidência, era quase nossa parente e nós, solitários, a convidamos para morar conosco.

Falava muito bem o inglês e nos ajudou nas dificuldades qual fossem. E assim ganhamos uma grande companheira, nossa querida LOURDES. 

 

Aproximando-se um novo inverno e Luiz Antonio não suportando o trabalho ( sempre ajudado pelos amigos porto riquenhos ), passou a trabalhar como faxineiro num prédio em Manhatan , centro de New York, LIFE INSURANCE, limpando chão, carregando lixo, lavando banheiros, mas muito orgulhoso de seu novo trabalho.

Nossa vida lá foi de uma experiência valiosíssima e adquirimos grandes conhecimentos humanos.

Valores diferentes daqueles que conhecíamos. Lá náo éramos turistas e sim trabalhadores, legalmente, com os vistos regularizados.

Morávamos no bairro do BROOKLYN.

Sentíamos na pele todos os problemas sociais daquela cidade.

New York é uma metrópole gigantesca, de contrastes chocantes. A cada quarteirão, o belo e o feio se misturam e se sobressaltam.

O povo agitado, parecendo viver numa individualidade latente e total. O povo do mundo inteiro , com trajes e costumes diferentes, se cruzam constantemente, parecendo que todo o mundo ali se reuniu, com toda sua diversidade. Lá literalmente vive-se 24 h ininterruptamente, tal qual New York é conhecida como a cidade que não dorme.

É um piscar de semáforos, luzes, holofotes, prédios coloridos e iluminados. 

 Cartazes audaciosos, cores deslumbrantes, liberdade exagerada, racismo ,discriminação ao forasteiro, dias borbulhantes, noites que parecem dias, com tanta luminosidade , num fascínio esplendoroso, como um imenso Play Center, com seus ruídos e alaridos de emoções sem fim.

Lá já nessa época, mesmo com a crise da cidade nos anos 70, a tecnologia era avançada, com suas poderosas ferramentas e engrenagens, envolvendo realmente aqueles que nela escolheu viver.

Agitação, povo andando e correndo quase que automaticamente.

Veste-se e anda-se lá como se quer. Nínguém fica te julgando pelas aparências.

Tudo é normal. Nada espanta o povo nova iorquino.

Enfim, para nós, tudo lá era diferente, mas nos alertou para a diferença de valores de um povo e por extensão de pessoa por pessoa.

E o Luiz Antonio, quando em folga, nos levava para conhecer todos os pontos turísticos da cidade.

Central Park, Rockfeller Center, Empire States, Estátua da Liberdade, metrôs,... e foi nessa época que o original World Trade Center estava sendo levantado.

Num dos passeios de barco pela Ilha de Manhattan, fotografamos a construção desse gigante, com aquele aço vermelho, que ia por baixo do concreto. Mal saberíamos prever a terrível tragédia que aconteceria em 2001.

Guardamos fotos até hoje dessa relíquia, a construção do World Trade Center.

Simplesmente amávamos New York !

Um dos problemas que nos incomodava era INABEL ter dificuldade no domínio do inglês, estava cursando o correspondente ao primeiro ano primário daqui . Ela tinha também aulas particulares com nossa amiga Lourdes. E também o problema de ser rejeitada pelas crianças americanas, por ser uma estrangeira. "

 

Continuação no Capítulo 8 ...

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CAPÍTULO 8 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 17h07CAPÍTULO 8 - ROMANCE LUIZ E LUICA

" Havíamos deixado aqui no Brasil um grande amigo, o qual nos representou muito em nossas vidas durante muito tempo. Ele nos enviava notícias, às quais mais representavam um diário do que propriamente cartas. Nosso inesquecível TIO ALCEU !

Nessas cartas eu aprendia muito, principalmente com sua filosofia de vida própria, que lhe era peculiar. Nos incentivava e quando nos escrevia - Enquanto o chicote sobe, o lombo do burro descansa - ou - Amanhã será outro dia - , nos dava ânimo para continuarmos na luta. Com essas e outras frases fui assumindo uma nova personalidade.

Meu tratamento da visão corria muito bem !

Aprendi a sorrir novamente.

Colocava uma enorme pedra em nosso passado e não me importava o que Luiz Antonio  havia feito antes, se tinha tido outras mulheres. Não me considerava uma NOVA AMÉLIA, mas tudo que fiz foi para salvar um grande amor.

Estávamos distantes de tudo e de todos e éramos felizes.

Batíamos longos papos, eu, INABEL , meu marido, e nossa filha, embora pequena ainda, participava de nossas conversas, dando-nos suas opiniões, às quais ouvíamos com atenção. Passei a dar valor entre a diferença de SER e TER.

Mais vale aquilo que somos para nós mesmos, para nossos lares ou mesmo para uma sociedade, do que da quantia ou dos bens que possuímos. 

Mas, passado 1 ( um ) ano fora, nos Estados Unidos, com muitas saudades de casa, dos entes queridos, ouvindo nossos corações, resolvemos voltar ao Brasil. 

O tratamento médico havia sido feito com sucesso, embora precisasse fazer uma cirurgia, adiei para realizá-la no Brasil.

Mas, estava enxergando bem e a doença estava estabilizada.

Durante essa época, Luiz Antonio como sempre gostou de escrever, começou a rabiscar coisas que ele sentia.

Fizera uma auto-análise do que ele havia sido e o que passou a ser. Surgindo assim uma poesia que demos o nome de TROQUEI. "

 

Essa poesia no próximo capítulo...

 

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CAPÍTULO 9 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 17h06CAPÍTULO 9 - ROMANCE LUIZ E LUICA

 " Aqui lhes apresento a poesia feita por Luiz Antonio :

 

                                    TROQUEI

 

    Troquei meu terno brilhante,

    Minha mesa de trabalho e

    também a posição.

    De gerente interesseiro, passei

    para humilde coveiro, ganhando

    um carrinho de mão.

 

    Troquei  meu terno bonito, meu

    sapato reluzente, por roupa bem

    diferente.

 

    Troquei feliz toda a vaidade ,

    por um caminho sem ilusões, em covas

    tão mal feitas, vivendo onde se mora

    a saudade. 

 

    Troquei os cheques, os títulos do banco,

    balancetes e balanços e também a

    compensação.

 

    Troquei tudo por alamedas tão belas, com

    árvores frondosas em jardins tão lindos

    e a cruz da oração.

 

    Troquei sem pena, sem vacilações, o                                             

    meu orgulho,minha prepotência. Todo meu                                             

    egoísmo, minha elegante silhueta pela 

    pá e a picareta.                                    

 

    Troquei tudo. Tudo mesmo. Com orgulho para os

    meus, pois troquei também contente os sorrisos

    falsos e fingidos , pelas lágrimas sinceras e sentidas

    do último adeus. "

 

Capítulo 10 a seguir...

 

 

 

 

 

 

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CAPÍTULO 10 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 17h06CAPÍTULO 10 - ROMANCE LUIZ E LUICA

" Voltamos dos Estados Unidos com uma bagagem de conhecimentos bem maior de quando fomos. Passamos a encarar a vida de uma outra forma, e o que era mais importante, o real significado da família.

No aeroporto, ao chegarmos, nossas mães nos esperavam juntamente com alguns parentes e amigos. Abraços com lágrimas de saudades e felicidades, nos dirigimos à casa de meus pais.

Tudo estava como havíamos deixado. Da mesma forma onde eu havia me despedido de meu pai, deixando-o chorando e sentado numa poltrona, vitimado por um AVC. E assim novamente, o encontrei.

Fizeram um almoço em nossa homenagem e lá ficamos aquela noite. Como eu já havia me decidido de que não desejava mais interferência em nossas vidas dali para frente, embora os amasse demais, e para que esse amor não sofresse nenhum abalo, resolvi por bem, irmos residir provisoriamente num minúsculo apartamento no centro da cidade de São Paulo.

E assim, reiniciávamos nossa vida no Brasil. A princípio, Luiz Antonio foi trabalhar com o ALCEU como corretor de imóveis. Que alívio !

Passamos a dormir em paz. Mais alguns meses fui submetida à cirurgia dos olhos, a qual me deu chances de poder ver, ler e escrever novamente. Felicidade esta que há muito já não tinha, embora tivesse sido alertada pelos médicos americanos que talvez essa melhora não seria duradoura.

Apesar que naquele momento nada disso ainda me preocupava. INABEL voltou a estudar e meu marido foi convidado a assumir a gerência da empresa que era corretor.

Novos horizontes se abriram. Luiz Antonio ganhou muito dinheiro. A corretagem era venda de grandes indústrias. Daquele apartamento pequeno passamos para um outro maior até que conseguimos comprar uma segunda casa. Já esta não sendo só dos sonhos do Luiz Antonio como a primeira, mas sim dos sonhos dos três.

Foi uma compra com bases sólidas com ambas as cabeças no lugar, com os pés no chão. Sabíamos o que estávamos fazendo.

Nessa época, nasceu em mim a vontade de ser mãe pela segunda vez. Queríamos agora um menino. Maternidade essa que me havia sido negada por meus oftalmologistas, em virtude dos fortíssimos medicamentos que meu tratamento exigia.

Numa próxima consulta, perguntei-lhe sobre isto, e me responderam, que se eu interrompesse o tratamento durante a gravidez, poderia ter esse filho tão desejado ! Engravidei logo após, e todos esperávamos ansiosos o dia que o bebê viesse ao mundo.

A princípio tive uma gravidez normal, com um pré natal promissor. No terceiro mês de gestação recebi a notícia que meu pai estava muito mal. Corremos para sua casa desesperados.

No quarto que ele estava, o médico de nossa família tentava fazer algo por ele. Luiz Antonio entrou e me aconselharam devido meu estado de gravidez, que o mesmo eu não fizesse. Passados alguns minutos, meu marido saiu do quarto e pelo seu semblante, e sua voz embargada pude notar que o pior já havia acontecido.

Levei um choque. Chorei muito, me dava muito bem com meu pai, ele era muito meu amigo. Cheguei ao desespero e nada ou ninguém podiam me consolar. Tal estado emocional não me foi benéfico. A partir de então, comecei a ter problemas com a gravidez.

 Sentia-me mal, muitas dores e perdendo a disposição. Em consequência dos fatos, com cinco meses e meio de gestação comecei a perder água. Fui obrigada a fazer um repouso absoluto, caso desejasse ter um filho em condições normais.

Infelizmente, só consegui segurá-lo até o sexto mês e meio. Com um parto um tanto difícil, com grande perícia de meu obstetra, sempre optando para o bem do bebê, que se fizesse um parto normal. Ao findar 24 horas, o nosso tão sonhado filho veio ao mundo pesando apenas 900 gramas. "

 

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CAPÍTULO 11 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 17h05CAPÍTULO 11 - ROMANCE LUIZ E LUICA

" Isso aconteceu numa madrugada de 28 de novembro .

Ao ser examinado pelo pediatra de plantão do hospital São José, de enfermeiras freiras, fomos informados que somente um milagre de Deus poderia salvar a vida daquela criaturinha. Não pude vê-lo ao nascer, pois foi imediatamente encaminhado à encubadora, onde ficam os prematuros.

Passei cinco dias no hospital em intensa expectativa, sempre com a esperança que logo estaríamos juntos. A cada momento , que os carrinhos levando os bebês para as mães os amamentarem e a porta do meu quarto não se abria, escutando os choros das crianças, ficava a imaginar meu filho e em que estado se encontrava.

Obtia informações do meu marido que já o vira na pediatria, um tanto inseguro, tentava ele disfarçar ,mas eu o sentia muito triste. Quando me foi concedida a alta médica, permitiram que que eu pudesse vê-lo por minutos.

IRMÃ PALMIRA,freira e enfermeira, maravilhosa criatura, que naquela época, trabalhava no berçário ha 40 anos, sentindo minha angústia, colocou-me uma luva medicinal, podendo eu assim , através daquele pequeno orifício da encubadora, tocar e sentir, embora as luvas atrapalhassem pela primeira vez o meu contato com o corpinho do meu adorado LUIZINHO.

A emoção desse momento foi inesquecível. Não sabia se ria ou chorava e recebi imediatamente o consolo da maravilhosa Irmã Palmira que com toda sua experiência me garantia, que eu tivesse fé, pois um dia ele sairia em meus braços.

Fomos informados que para tanto , ele necessitaria de leite materno e como eu infelizmente não tinha, tivemos que arrumar três doadoras em bairros diferentes de São Paulo. Naquela época, ainda não existiam bancos de leite materno nos hospitais. Eram elas, uma gaúcha, uma negra e uma descendente de sírios, que salvariam meu filho.

Diariamente fazíamos esse percurso três vezes ao dia, em busca de tão precioso alimento. Infelizmente por motivos vários, esquecemos os nomes de tão maravilhosas mulheres, mães de leite de nosso filho, às quais faziam isto pelo simples amor ao próximo, nada nos cobrando.

INABEL, já com 9 anos, vivia nos perguntando quando seu irmãozinho iria para casa. Meu marido nem o berço comprou com receio que algo ainda pudesse acontecer.

Passava o tempo, ficamos distantes dele no Natal e fim de ano, vendo-o apenas quando nos era permitida a entrada no berçário, sempre através da santa Irmã Palmira.

Embora meu obstetra também tivesse grandes esperanças, o pediatra mostrava-se o oposto, e ainda nos dizendo que não contássemos com o ovo antes da galinha. Sentindo nosso desespero, meu obstetra começou a acompanhar diariamente, sem que tivesse obrigação à evolução física de nosso querido filho, mas sempre com otimismo.

 Lembro-me bem que, no início de fevereiro de 1972, Irmã Palmira nos telefonou toda eufórica, dizendo-nos que poderíamos ir buscá-lo no dia seguinte. Naquela noite não dormimos de tanta alegria, pois estava chegando o momento mais ansiosamente aguardado por todos nós. Ao chegarmos na maternidade, Irmã Palmira me vestiu com um roupão azul, com máscaras protetoras, convidando-me a entrar no berçário e surpresa fiquei ao saber o quanto já estava pesando, ou seja 2 quilos e 160 gramas e que naquele momento eu iria dar o seu primeiro banho.

Parecia marinheira de primeira viagem. Encontrava-me excitada e nervosa, a ponto da própria Irmã ter que me ajudar.

E foi assim que 3 meses após o seu nascimento, conseguia sair daquela maternidade toda orgulhosa, carregando-o em meus braços, apertando-o contra meu peito e levando várias recomendações da Irma Palmira.

No carro, quando nos dirigíamos para casa, INABEL estava tão eufórica, que não parava de falar. Fazia planos com a presença de seu irmãozinho em nosso lar.

Decididamente , temos uma imensa GRATIDÃO à IRMÃ PALMIRA, e àquelas três mulheres, sem vínculo algum conosco, que salvaram a vida do nosso filho.

Infelizmente, não as vi mais , a Irmã Palmira ainda a visitamos por algum tempo, depois perdemos o contato. Nem sabemos ao certo se a Irmã estivesse viva ainda hoje, até por ter já uma idade avançada quando no nascimento de LUIZINHO.

GRATIDÃO é a palavra que encerra aqui esse capítulo... "

 

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CAPÍTULO 12 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 17h05CAPÍTULO 12 - ROMANCE LUIZ E LUICA

" Foi um dia de festa. Minha sogra, minha mãe e Alceu nos esperavam felizes, e foi somente nesse dia que meu marido foi comprar o berço.

Indicado por meu médico obstetra, Dr.Quintino, médico de confiança da família há muitos anos, marcamos uma consulta para o dia seguinte com um pediatra especialista em prematuros, a fim de que nos orientasse a melhor maneira para criá-lo.

Ao examiná-lo , nada notou de anormal, naquela época não tinha tantos exames que hoje são feitos até dentro do útero materno; dizendo-nos apenas, que ele era prematuro de peso e que não tinha ainda anticorpos necessários no organismo. Somente por isso, deveríamos ter certos cuidados e precauções, evitando que pudesse adquirir qualquer doença, pois poderia lhe ser prejudicial, para tanto, deveríamos deixá-lo em quarto bem arejado e que somente fosse cuidado por mim ou meu marido.

Alguns dias após esse acontecimento, minha sogra que já se encontrava doente, veio a falecer. Outra perda de grande significado em nossas vidas. Nossa família se resumia agora, em nós quatro, minha mãe e o grande amigo Alceu.

Quanto ao nosso filho, tudo fizemos como nos fora recomendado.

Eu dormia com Luizinho a fim que pudesse atendê-lo durante as noites, e o Luiz Antonio ficava com INABEL, mas quando ele chorava todos se levantavam e cada um fazia alguma coisa.

Como assim não poderia continuar, eu e meu marido resolvemos nos revesar, mas de nada adiantou, continuávamos os dois a atendê-lo, da mesma forma que fazíamos com INABEL.

Ele se alimentava de 2 em 2 horas, durante as 24 horas. Era muito exaustivo !

Mas não nos abatíamos com o cansaço, porque apreciávamos o seu desenvolvimento. No sétimo mês, o pediatra me disse que dali para frente, Luizinho estava apto a levar uma vida normal.

Poderia passear conosco e passou a ser membro integrante em nossa família. Luiz Antonio e Alceu haviam adquirido uma casa na Praia Grande, no Balneário Flórida, e para lá íamos de vez em quando, o que achávamos que o ar puro só iria beneficiar nosso filho.

Voltamos a ter uma vida normal, com muitas alegrias e sem preocupações. Mensalmente nós o levávamos ao pediatra e o mesmo ficava feliz com sua evolução. Era uma criança gordinha e até bem bonitinha.

Com 10 meses, pudemos observar alguma coisa de anormal em seu comportamento. Fragilidade física, não conseguia se equilibrar, sempre com o pescoço caído, movimentando desconexamente suas mãozinhas e pézinhos. Percebíamos que parentes e conhecidos observavam essas reações, mas com receio de nos magoar, nenhum comentário faziam conosco. Em geral, uma criança nessa faixa de idade, já nota alguma coisa a seu redor, interage, e ele parecia estar alheio a tudo. Eu e o Luiz começamos a nos preocupar.

Fizemos tal comentário com o pediatra e o mesmo nos acalmou, dizendo-nos que ainda eram problemas de sua prematuridade, e que se alguma coisa houvesse de anormal, ele seria o primeiro a nos avisar.

Mais dois meses se passaram, e durante esse tempo, nossas preocupações aumentaram, pois nem sentar na cama o Luizinho não fazia. Colocávamos os mais variados e estridentes brinquedos ao seu redor, e ele continuava alheio a tudo, sempre mexendo desordenadamente suas mãozinhas e pézinhos e às vezes, mesmo sem barulho algum, parecia levar sustos, estremecia seu corpinho, parecendo levar um choque ou picada de agulha.

Apesar disso era uma criança calma, não chorava, não berrava, dava a nítida impressão de docilidade, não emitia som algum, e onde o colocávamos ele ficava horas e horas, sem reclamar.

E assim completou seu primeiro aninho, não demonstrava sentimento algum. Olhava estático o bolo. Parecia nada entender.

Foi aí, o próprio pediatra que o tratava, demonstrou sua preocupação, e nos encaminhou a um famoso neuro pediatra de nossa capital, por sinal, professor de uma faculdade. Com alguma dificuldade, conseguimos um horário com tal famoso médico.

No dia marcado, levamos nosso filho. Ele fez um exame que para nós, leigos no assunto, pareceu-nos bastante supercial.

Mandou que sua enfermeira levasse nosso filho a uma sala ao lado e pediu para conversar conosco. Primeiro nos fez uma série enorme de perguntas, sobre nosso estado de saúde, se tínhamos doenças no passado, afinal, perguntas que outros médicos, como de praxe, sempre nos fizeram. "

 

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CAPÍTULO 13 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 17h04CAPÍTULO 13 - ROMANCE LUIZ E LUICA

" O médico recebeu a resposta que eu estava nessa época com uveíte e glaucoma, porém já operada. Fornecí-lhe detalhes sobre a mesma, informando-o que as causas de minha enfermidade visual, embora já houvera feito uma série enorme de exames, continuava sendo não diagnosticada,  com leves suspeitas de algum tipo de vírus.

Após ter ouvido todo nosso relatório, depois de muito pensar, eu achei que ele fosse nos dizer algo animador,  estávamos preparados a ouvir uma verdade, fosse ela qual fosse, pois sendo um médico de renome, teria psicologia suficiente de nos dizer o que observou em nosso filho, de uma maneira sutil, embora para isto não fosse obrigado.

Virando-se para mim, aparentando uma surpreendente calma e um certo descaso, vim a conhecer o mais frio e desumano diagnóstico. Ou seja, disse-me que meu filho tinha todas as características de um retardo mental, que jamais andaria, jamais falaria, que jamais conheceria pai , mãe e irmã, e que dependeria de nós para o resto de sua vida, possivelmente vegetativa. Acrescentou também , que o levássemos a um cardiologista infantil, pois poderia ser portador de cardiopatia congênita, cuja consequência lhe seria fatal, não ultrapassando os seus 5 anos.

Parecendo não satisfeito com tudo isso, começou a me acusar, afirmando-me de que eu tinha sido a culpada em gerar todo esse problema, pois uma mulher em condições de saúde igual à minha jamais poderia colocar no mundo uma criança, para tanto existe o controle da natalidade.

Demonstrou sua ira com mães que possam, por uma desventura qualquer, colocar no mundo uma criança com certas anomalias.

Fiquei arrasada, parecia que o mundo havia desabado sobre mim. Queria fugir daquele consultório. Chorando e  carregando uma culpa, eu tinha a certeza que mãe alguma em sã consciência colocaria no mundo um filho para sofrer.

Chocados, mesmo assim resolvemos fazer todos os exames por ele exigidos. Foram feitos uma série enorme deles, ou seja, sangue, urina, fezes, chapas de crânio, eletroencéfalograma, cariótipo, cromossômico, etc. Ao findar um mês obtivemos o resultado. Nosso filho era portador de Síndrome de Down.

Após nos comunicar o resultado, sugeriu-me o referido médico que eu fizesse os mesmos exames, oficializando assim, a minha culpa e dizendo que meu marido não precisaria fazê-lo, pois pelo resultado, constatou que realmente o motivo do mal de meu filho tinha vindo de mim.

Sem que percebêssemos estávamos entrando numa corrente sem fim, num círculo vicioso, no qual nos cobravam o que queriam e para o bem de nosso filho, fizemos todo tipo de sacrifícios para podermos pagar tais exames.

Posteriormente, encaminhou-nos a uma fisioterapeuta na qual eu o levava 3 vezes por semana. Não me era permitida a entrada, mas da sala de espera eu ouvia meu filho chorar e gritar. Eu não sabia o que estavam fazendo com ele.

Pedia explicação e disseram-me que não me preocupasse, pois o mesmo iria se acostumar com a tia que o tratava, e isto era muito normal.

Tendo passados alguns meses, a médica e a fisioterapeuta chamaram-me e assim falaram : seu filho infelizmente está regredindo e eu a aconselho a colocá-lo num local para crianças iguais a ele. Deu-me a entender um pouco mais sutilmente o que o médico anteriormente havia citado, que assim fazendo estaria realizando um bem ao nosso filho, e eu como mãe iria sofrer menos, pois ficaria distante dele, pois fatalmente um dia eu iria rejeitá-lo.

Nada lhes respondi e dali saí na certeza de não mais voltar.

Cheguei em casa novamente em prantos, e não me conformando com a ideia, fiz meu marido, naquela mesma noite, me levar à casa de meu obstetra. Levamos Luizinho conosco, fazendo que o mesmo visse nosso filho e sentisse nosso problema. Saímos de lá mais aliviados, pois ele se colocara totalmente contra todos os diagnósticos dados, e em nossas mentes pensávamos que ele assim fizera para nos acalmar e por ser muito nosso amigo.

Dai-nos força, MEU DEUS ! "

 

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CAPÍTULO 14- ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 17h04CAPÍTULO 14- ROMANCE LUIZ E LUICA

" Por minha conta e apoiada pelo meu marido, resolvi trabalhar com nosso filho à minha maneira, sem técnicas ou métodos sofisticados, usando apenas a intuição de mãe e especulando pessoas com alguns conhecimentos, o que se poderia fazer nesses termos.

Fizemos barras e escadas de madeira. Um corre mão na parede. Adquirimos um andador, uma bola pequena de borracha, uma grande de ar, e alguns objetos de cores e formas variadas. Me imbuí de força total , mas quando me lembrava do que me haviam dito, eu me revoltava contra a medicina, ao mesmo tempo achava uma profissão valiosíssima dentro de nossa sociedade, quando bem ministrada e tendo por base o amor ao próximo. Estava em conflito.

Jamais para minha tranquilidade deixaria meu filho nas mãos de outras pessoas, pelo menos sem antes ter tentado fazer alguma coisa por ele. Se Deus colocara essa cruz em meu caminho, eu é quem deveria carregá-la, e não pagar para que uma profissional a carregasse por mim.

No íntimo não aceitei e não me conformei com todo o diagnóstico, tendo grandes esperanças em poder conseguir alguma coisa. A única certeza que tinha era o grande amor por meu filho, e com amor, carinho e dedicação iria salvá-lo.

Foi um trabalho árduo e um tanto difícil, pois minha visão estava piorando novamente, e não podia contar muito com a colaboração de meu marido devido às suas atividades profissionais. Passava o dia inteiro exercitando através de ginástica forçada o corpo do meu filho. Articulava seus bracinhos e perninhas, forçando seus membros para que se fortificasse.

Forçava-o a andar no corre-mão do corredor e segurasse as barras. Ajudava-o a subir e descer a escadinha de madeira.

Fazia com que ele segurasse a bolinha de borracha, forçando-a em movimentos de abrir e fechar, passando de uma mão para outra a fim dele aprender a segurar outros objetos.

Colocava-o sentado no andador e segurando suas perninhas ensinava-lhe os movimentos de andar. Colocava também, diversos objetos ou brinquedos em sua volta, pedindo-lhe que apontasse aquele que eu pedia.

Exercitei minha profissão de professora com meu filho. Ao mesmo tempo tentava fazê-lo falar. Com uma de suas mãozinhas levemente tocadas em minha boca, eu pronunciava bem pausadamente, tentando uma dicção clara; eu dizia mamãe e papai. Fazia isto várias vezes, algumas horas até, e para minha satisfação começava a perceber reações favoráveis em relação à sua fala, pois aos poucos começava a pronunciar MÁ e PÁ.

Isto me fortalecia a continuar aquele trabalho tão leigo e custasse o que custasse, eu o faria uma criança normal. Andando, correndo, falando, brincando e conhecendo os seus familiares.

Tinha em mente um objetivo, fazer de meu filho GENTE. E não um objeto de curiosidade de conhecidos, que não passando os mesmos problemas, não lhes dão o significado exato daquilos que seus olhos vêem, mas suas mentes repelem chegando ao cúmulo de uma marginalização.

Aos poucos fui percebendo que o mesmo já reagia. Falava começando a pronunciar pequenas sílabas, sabendo já pedir o que desejava e nós o entendíamos perfeitamente bem. Mas eu não poderia parar ali com essa pequena vitória. Sentia-me cansada com a visão piorando cada dia mais, e mais e mais eu lutava. Desejava vê-lo andando sozinho. Além desse trabalho, eu não podia me esquecer de INABEL, de meu marido e dos afazeres domésticos. Estava sobrecarregada !

INABEL quando podia me ajudava.

E como ajudou na dura tarefa ! Fui notando que sentadinho no andador, ele o empurrava para frente e para trás, isto conseguindo somente com 3 anos de idade. Constatei que demonstrava reflexos favoráveis também para andar. "

 

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CAPÍTULO 15 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 17h03CAPÍTULO 15 - ROMANCE LUIZ E LUICA

" Obriguei-o a ficar em pé no andador, fazendo com que segurasse em suas bordas e com minhas mãos colocadas em seus joelhos, eu o levava de cá para lá.

Qual não foi nossa surpresa tendo passado mais algum tempo , vi-o sozinho dando marcha ré dentro do andador.

Ora, se uma criança consegue trocar passos para trás, automaticamente essa criança passaria a andar no sentido correto.

Dependia apenas de mim. Faltava tão pouco e tinha a certeza que iria conseguir. Com pouco mais de três anos tivemos a alegria de vê-lo dentro do andador correr atrás de mim, INABEL e meu marido. Logo em seguida, com certa dificuldade começou a andar sem o auxílio do andador, surpreendendo-nos, tentando subir em cadeiras, poltronas e até escada, a qual já descia sentado degrau por degrau.

Peguei o hábito de dar duas ou três voltas ao dia no quarteirão, segurando sua mãozinha, fortificando suas pernas.

Convidava crianças da vizinhança para que ele fosse se sociabilizando paulatinamente. Num determinado dia recebi a visita de uma conhecida, cujo filho tinha a mesma idade do Luizinho. Ingenuamente insisti para que ambos fossem brincar e ela me perguntou se os brinquedos do Luizinho estavam desinfetados e se o mal de meu filho era contagioso. Me controlei por educação, porque minha vontade naquele momento seria de convidá-la a se retirar.

Foi aí que tomei a verdadeira consciência da marginalização que todo deficiente sofre, embora na ocasião eu ainda não supunha que tal sentimento por uma anomalia física chegasse a esses extremos. Calei-me, enguli em seco e mentalmente orei, ficando até com pena daquela mãe tão preocupada. "

 

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CAPÍTULO 16 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 17h03CAPÍTULO 16 - ROMANCE LUIZ E LUICA

" Havia se transcorrido pouco mais de três anos e meio mais ou menos e com todo um trabalho rudimentar feito, eu contrariava todo um prognóstico médico. Pelo simples fato de meu filho descer as escadas sentado, demonstrava ter ele noção de perigo. Pode parecer pelas narrativas feitas por mim, que eu tivesse sido uma grande heroína. Voltarei um pouco no tempo, tentando transmitir os meus sentimentos e minhas ações.

No início realmente, revoltada, considerava-me com forças suficientes para vencer a batalha. Aos poucos porém, fui me sentindo fraca. Não tinha estrutura física, nem psíquica, e nem tampouco me sentia preparada pelo simples fato de ser mãe de um excepcional. A palavra rejeição martelava minha mente. Estava perdendo o raciocínio, fazendo tudo automaticamente. Não tinha me conscientizado ainda o que estava acontecendo e que consequência traria.

A única coisa que me fazia continuar, como já narrei, era o grande amor que dedicava ao Luizinho, mas ao mesmo tempo tentava fugir dos meus problemas, fugir de mim mesma, de meus próprios pensamentos e de minhas emoções. Tinha um terrível medo de um dia vir a rejeitá-lo, envergonhando-me dele.

Quando alguém comparava suas atitudes com as de outras crianças normais, sentia desejos de agredir nem sei de que forma as pessoas que isso faziam.

Cheia de fobias, meus complexos aumentavam, meu filho melhorava e eu piorava, segundo por segundo. Tive momentos de vacilações e sentia fraquejar em meu empreendimento. Nesses momentos de vacilação, eu tinha depressão e angústia, que me levavam à apatia. E assim não podendo ficar, pouco a pouco, comecei a misturar calmantes com bebidas alcóolicas, as quais juntos em lugar de me relaxar, me excitavam.

Não satisfeita com isso comecei a usar e abusar de comprimidos para emagrecer. Somente assim, tinha a coragem em continuar, deixando que meus pensamentos não pudessem me atrapalhar. Além disso, não podia me sentir cansada, pois quando Luizinho dormia, tinha outras ocupações a realizar dentro do meu lar.

Passei a ter medo de dormir e assim sendo, das pílulas para emagrecer, num curto espaço de tempo passei a usar drogas mais fortes.

Quando essas começavam a perder o efeito, sentia-me numa depressão horrível e consequentemente, a ansiedade.

Desta maneira aumentava as dosagens por minha conta, chegando ao clímax do vício, e entendam , não era cocaína, etc... e sim remédios muito fortes, psicotrópicos. Que não deixam de ser drogas.

É duro confessar publicamente isso, pode parecer até vergonhoso, mas o faço hoje de cabeça erguida, tentando ajudar alguém que possa estar sentindo os mesmos sintomas que eu senti.

Passava as 24 horas do dia completamente dopada, embora tentasse disfarçar ao máximo. Meu comportamento se modificou totalmente. Da Luica meiga e dócil, tornara-me agressiva, com atitudes de total desequilíbrio, fazendo várias coisas ao mesmo tempo. As pessoas que eu mais amava no mundo, foram as que eu mais agredia. Para um exemplo de transfiguração física e mental que eu não percebia, cito uma passagem ocorrida com minha filha.

Ela gostava muito de me ajudar e de trocar seu irmaozinho. Numa determinada noite, eu, procurando-o como uma louca dentro da casa, que era muito grande, encontrei-no no quarto de INABEL , onde ela carinhosamente trocava-lhe as fraldas. Sentí-me irada contra ela, dizendo-lhe que se ela estava pensando que tomaria meu lugar, não iria conseguir.

Disse-lhe isso aos berros e puxando violentamente Luizinho de suas mãos. Não sei dizer como estavam minhas feições, somente soube através do Luiz Antonio, o terrível medo qie INABEL passou a ter de mim, afirmando ainda, que minha aparência lhe dera a nítida impressão de que eu era um vampiro.

Cenas como essas passaram a ser constantes em nosso lar.

Sentia que todos, aos poucos se afastavam de minha presença.

Perdi muitos amigos, a própria empregada, restando apenas meu marido. As drogas, remédios psicotrópicos aumentavam mais e mais, até que eu própria já não suportava mais aquilo. Minha cabeça parecia explodir, tentava me relaxar, mas me encontrava tão elétrica que não conseguia. Nossa casa parecia um inferno. "

 

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CAPÍTULO 17 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 17h02CAPÍTULO 17 - ROMANCE LUIZ E LUICA

" As únicas pessoas que ainda frequentavam minha casa eram minha mãe e Alceu, que a tudo assistiam indignados, mas ainda sem saber o que comigo acontecia. Luiz Antonio se mostrava cauteloso, embora por vezes me chamava atenção, atitude essa que piorava muito mais meu estado emocional.

Me perguntava o que eu estava usando e por qual motivo os meus braços viviam cheios de esparadrapos e band-aids. Respondía-lhe que sentía-me fraca e por isso havia tomado algumas injeções de vitamina. De vaidosa que era, passei a não mais me cuidar, emagrecendo e com a fisionomia bastante cansada e envelhecida.

Luiz Antonio percebia meu olhar parado, minha boca seca, sempre tomando refrigerantes ácidos, mas comentário algum fazia. Deve ter demonstrado sua preocupação e alguns comentários comigo, mas confesso que nem liguei.

Não suportando mais, nos poucos momentos de lucidez, pensava numa maneira de poder sair daquele terrível estado em que me encontrava. Resolvi buscar ajuda em um padre. Vigário de uma paróquia próxima à nossa casa, no bairro de Moema, em SP. Para que tivesse coragem de falar sobre os meus problemas, fui dopada. Ele me ouviu e prometendo ajuda disse-me que passaria a frequentar nossa casa.

Se foi uma ou duas vezes, e sempre a meu pedido, na ausência de meu marido, foi muito. Fazia citações bíblicas das quais eu nada queria saber. Talvez tenha sentido medo do peso de uma responsabilidade, e embora tivesse tentado me aconselhar, nunca mais voltou.

Chegou até a participar de alguns aniversários da família.

O que eu queria realmente não eram conselhos, mas sim atitudes que pudessem me ajudar e alguém que pudesse me ouvir, porque meu negócio era falar.

Decidi então que deveria contar ao meu marido toda a verdade, pedindo-lhe sua colaboração, valendo-me de sua compreensão.

Fiz isso durante uma almoço de sábado. Todo viciado tem uma incrível força. Força não física, nem mental, mas que vem de dentro de si, com uma vontade intensa de se curar. Esta força é demonstrada quando cria coragem e ao estender suas mãos a alguém, dizendo-lhe: por favor , preciso de sua ajuda, quero sair disto.

Luiz Antonio me ouviu, prometeu ficar ao meu lado , a me ajudar naquilo que fosse preciso.

O primeiro passo a ser tomado, foi me encaminhar a um psiquiatra. Como não desejava me internar, sendo o tratamento domiciliar e não hospitalar, além das sessões de análise, o mesmo me receitou um remédio, o qual deveria tomar 3 comprimidos ao dia. Eu contrariava suas ordens, pois ao invés de tomar 3, tomava 10, mais as drogas.

A situação piorava. Passei a não mais sair do quarto, não permitindo sequer que abrissem as janelas para que um raio de luz solar entrasse. Esquecí-me totalmente dos meus filhos, marido e meu lar, o qual estava sujo e bagunçado.

INABEL tentava fazer alguma coisa , mas sem orientação alguma, pouco poderia fazer.

Luiz Antonio passou a ser o pai, a mãe, o dono da casa, além de suas funções profissionais. De manhã, antes de ir ao trabalho, alimentava Luizinho com a mamadeira que ele mesmo preparava, trocava-o,deixava-o com uma empregada nova, precisávamos de alguém para ajudar a cuidar do Luizinho e ao sair levava INABEL ao colégio. Deixava-me trancada a chave porque durante este período totalmente alucinada, tivesse tentado por algumas vezes fugir de casa.

Ao voltar na hora do almoço, trazia INABEL de volta e uma marmita de uma pensão que ele arrumou, a fim de que pudesse se alimentar e aos nossos filhos também.

A mim não interessava comer, embora ele insistisse.

Não me preocupava se meus filhos haviam se alimentado ou tinham o que vestir.

Minha mãe sempre que podia me chamava a atenção, cuidava nos finais de semana de toda a sujeira acumulada de nossa casa. Fazia uma comida mais substanciosa a todos, pois percebia que estavam magros e abatidos. "

 

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CAPÍTULO 18 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 17h02CAPÍTULO 18 - ROMANCE LUIZ E LUICA

" Minha mãe também nos ajudava com os afazeres domésticos.

Eu costumava não dormir em hipótese alguma, e como ficava durante o dia sem ter com quem conversar, obrigava Luiz Antonio a fazer isto madrugada adentro.

Falava de tudo, do medo que eu sentia, voltava à minha infância, quase que obrigando-o a encontrar uma rápida solução. Isto fazia todas as noites, prejudicando-o em seu sono, sem me preocupar com sua vida profissional que teria que enfrentar no dia seguinte. E ela teria que ser dinâmica e ativa. 

Mas eu pouco me importava.

Não sabia naqueles momentos o que realmente me atormentava, achava-me confusa, com ideias absurdas, odiava a tudo e a todos. Durante essa fase eu havia abandonado o trabalho com o Luizinho. Meu marido atônito, para que não entrasse também dentro de minha confusão , adquiriu alguns livros de psiquiatria, psicanálise e outros do gênero.

Dessa forma, buscava ele, respostas ao que presenciava.

Essas leituras, que por sinal me irritavam, foram de grande utilidade para o mesmo. Eu me encontrava em total prostração. Tentava dormir, não conseguia, queria alguma coisa e não sabia o quê. Queria falar, mas cansava-me.

Queria ouvir alguma coisa, mas me enervava.

Nas madrugadas, quando eu estava na fase de excitação, limpava a casa , lavava roupa, fazia barulho com máquina de lavar, aspirador de pó, não deixando que Luiz Antonio, INABEL e até Luizinho, descansarem.

INABEL ia à escola completamente desgastada e cansada, e mesmo assim era excelente aluna. Até parecia que se afundava nos estudos, o dia todo, para fugir dos problemas.

Luiz Antonio, às vezes, colocava músicas clássicas ou populares, eu agressiva pedia que desligasse. Ao mesmo tempo queria sumir, me internar em alguma clínica para não ver mais ninguém, ao mesmo tempo tinha medo em ficar solitária.

Parecia um pesadelo, minha aparência física estava horrível.

Cabelos emaranhados, suja, sem banho e às vezes que o tomava, meu marido me levava quase carregada ao banheiro, porque minha falta de vontade e as poucas forças que eu possuía, impediam-me de fazê-lo sozinha. Eu meiga, com educação e que nunca pronunciava uma palavra de baixo calão, comecei a usar palavrões, fosse quem fosse que estivesse em minha presença. "

 

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CAPÍTULO 19 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 17h01CAPÍTULO 19 - ROMANCE LUIZ E LUICA

" Perdi noções de higiene e de educação. Era um farrapo.

Aos poucos fui perdendo também, os preceitos de moral de família.

Luiz Antonio percebendo que o tratamento psiquiátrico não estava dando resultados positivos, começou a me proibir de entrar em contato com o médico. Numa manhã, lembro-me bem, eu desesperada e fora de mim , comecei a insistir que lá ele me levasse.

Diante de suas negativas, raivosa, lhe disse que estava apaixonada por aquela criatura, que tinha sido uma pena não o ter conhecido antes do meu próprio marido, e que desejava vê-lo por mais uma vez apenas.

Luiz Antonio ouviu calado e me respondeu apenas, que eu deveria em primeiro lugar me cuidar e que depois disto feiro, já totalmente curada, eu poderia fazer de minha vida o que quisesse, pois no estado em que me encontrava, pessoa alguma iria desejar ficar comigo.

Tenho certeza absoluta, de que se fosse um outro homem, que não estivesse suficientemente preparado, ouvisse isso dos lábios de sua própria esposa, teria dito: vá. A porta da rua está aberta e esqueça-se que um dia você teve um lar, dois filhos e marido.

Se assim ele agisse, eu teria rolado para o fundo do poço, a fim de matar meus desejos pelos malditos remédios, pelas drogas. Consequentemente, já não estaria mais aqui, pois qualquer que seja o vício, leva a criatura prematuramente à morte.

Para minha infelicidade maior, INABEL passava diante do quarto naquele exato momento, e ouviu eu dizer ao pai, pessoa que tanto amava e admirava, que eu amava outro homem.

Seu coraçãozinho de apenas 13 anos de idade, cheio de amor para transmitir, com essa mesma força de amor que possuía, passou a me odiar.

A partir dali não mais entrava em meu quarto, e quando por lá passava, simplesmente me dizia um OI desprezivo.

Esse OI me doía na alma, mas, mais uma vez, eu me acovardava diante de mais uma derrota. Não tinha acoragem de pedir-lhe que entrasse, que se sentasse em minha cama, que eu precisaria contar-lhe muitas coisas e que desejava seu amor.

Por mais que Luiz Antonio tentasse lhe explicar o que estava acontecendo, pedindo-lhe que me procurasse, ela tornou-se irredutível. E assim tudo piorava.

Minha visão estava piorando novamente.

Eu via e ouvia coisas que não existiam. Um enorme guarda-roupa embutido em meu quarto, por exemplo, que era todo entalhado, de belíssima madeira, me representava vários caixões com defuntos. Outro exemplo, tinha sempre a ideia fixa que alguém havia entrado em casa, a fim de me pegar. Mania de perseguição.

Quase que me arrastando perambulava, como uma sonâmbula , madrugada adentro por aquela mansão, que era nosso lar. Sentava-me nas escadas , de frente à uma janela enorme, a casa toda escura e ficava horas e horas olhando o vento balançar as plantas de nosso jardim e a rua deserta. Só o guarda noturno rondava a mansão.

Era uma morta viva e eu tinha de tudo. Meu marido com sua empresa de corretagem, e que sua especialização era compra e venda de indústrias. Não nos faltava dinheiro, e sim sobrava, com isso Luiz Antonio guardava mais e mais.

Numa dessas madrugadas, já quase ao amanhecer , quando ao meu quarto me dirigia, a porta do mesmo encontrava-se meio entre-aberta, eu pude ouvir pela primeira vez meu marido chorando.

Entre soluços ele dizia, como se estivesse conversando com Deus, pedindo que "ELE" o ajudasse e me iluminasse a ponto que eu tivesse forças suficientes para deixar de depender daqueles malditos remédios, anfetaminas, que estavam acabando com nossa família. Dizia também, que já não mais aguentava aquela situação, encontrando-se a ponto de desistir. "

 

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CAPÍTULO 20 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 17h00CAPÍTULO 20 - ROMANCE LUIZ E LUICA

" Num relance de consciência, ouvindo e sentindo tudo isso, reencontrei minha fé, a qual não estava perdida, mas sim, adormecida dentro de mim.

Naquele exato momento tive a impressão que algo de muito lindo renascia dentro de meu ser, e jurei a mim mesma, mesmo que tivesse que lutar contra minha própria morte, deixaria aquilo que estava corrompendo minha alma e destruindo minha família.

O vício não poderia ser maior que o amor pela vida que voltei a sentir, e nem tão pouco a invrível vontade de vencê-lo.

No mesmo dia antes de ir para o trabalho, Luiz Antonio deixava todos os meus comprimidos sobre o criado mudo e dizia: que eu usasse todos os que realmente necessitasse, mas que pelo amor de Deus, não maltratasse nossos filhos.

Sempre com as palavras pronunciadas por ele na madrugada anterior, martelando meus ouvidos, dizia a mim mesma várias vezes seguidas , hei de vencer. Hei de vencer. Hei de vencer.

Parecia que eu própria queria confirmar uma vitória sobre as drogas, que tinha de aceitar esta verdade, sem vacilações. Mesmo assim, apesar de toda minha força de vontade, tive crises horríveis. Somente quem já teve esse problema, saberá o que isso significa.

A princípio, eu olhei para a primeira dose, não as tomei, a segunda idem, a terceira, a quarta e consequentemente todas as demais que meu organismo necessitava. Era difícil, mas eu ia aguentando.

Caía no chão, sentia dores terríveis na cabeça, na nuca e em todas as articulações do corpo.

Sentia muitas cãibras.

Eu chorava muito.

Me agarrei desesperadamente em meu marido, implorando-lhe para ele me ajudar, pois faltava tão pouco e eu deveria vencer.

Se me perguntarem quanto tempo isto durou e por quantas crises passei, não saberia responder. Havia perdido completamente a noção do tempo.

Pouco a pouco fui vencendo crise por crise, chegando ao revertério, sentindo-me completamente depauperada fisicamente e o cansaço físico e mental tomava conta.

Passei horas e horas a fio, como se repousasse após um pesadelo. Às vezes abria os olhos e percebia que o meu marido estava ao lado da cama, como se velasse meu sono.

É óbvio que fui obrigada a fazer um tratamento clínico severíssimo, pois era pele e osso em cima de uma cama.

No decorrer desse tratamento fui renascendo para minha própria vida e para aqueles que eu tanto amava.

Qual não foi minha surpresa, ao me encontrar bem consciente, pude perceber que Deus não me havia abandonado, pois meu filho estava andando, correndo, falando e vivendo uma vida totalmente normal, mostrando assim, que todos os meus esforços não tinham sido em vão.

Mais surpresa fiquei ao perceber que INABEL havia me perdoado, pois seu comportamento em relação à minha pessoa, voltou a ser normal como nada tivesse acontecido.

Luiz Antonio muito conversou com ela sobre meu comportamento tão estranho, explicando-lhe que que estivera muito doente e o que ela ouvira não passava de uma " transferência ", acontecimento muito normal num tratamento psiquiátrico.

Percebi claramente que o perdão de minha filha fora sincero, poe suas atenções, preocupações à minha pessoa, não procurando fugir ao assunto que a fizera tanto sofrer. Entendeu bem o problema, a partir daí o relacionamento entre mãe e filha foi franco e aberto.

Por incrível que pareça, nós que antes de toda a fatalidade acontecida, tínhamos muitas conversas, diálogos, e a partir daí eles aumentaram. 

Notei apenas que ela estava bem amadurecida, passando a passos largos da infância para a idade adulta.

E, tudo isso só aconteceu por existir o AMOR.

Amor entre mim , meu marido, Luizinho e INABEL.

Portanto, o amor cura, quando existe AMOR de verdade, todos os problemas e obstáculos ficam para trás e faz renascer uma nova oportunidade, uma nova VIDA.

E repeti aqui muitas vezes a palavra AMOR, porque realmente foi o que me salvou. "

 

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CAPÍTULO 21 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 17h00CAPÍTULO 21 - ROMANCE LUIZ E LUICA

" Já plenamente recuperada, todos felizes, achamos por bem ( em conselho de família, método que passamos a adotar ), vender aquela casa , localizada no bairro de Moema, bairro nobre em São Paulo, que nos trazia tristes recordações e mudamos para um apartamento amplo em outro bairro, nos Jardins, também zona nobre da Capital.

Quero ainda enfatizar aqui, uma mensagem a algumas mães de crianças iguais ao meu filho, de que não tenham experiências como as minhas. Rejeição e medo são sensações normais inerentes a todo ser humano, quando enfrentam um problema dessa natureza. A fuga não é um caminho certo, pois de nada me adiantou refugiar-me no vício. A partir do momento que você passa a encarar o problema como uma coisa normal ( reconheço ser difícil ), torna-se mais fácil conviver com os mesmos e somente assim, naturalmente, sem bloqueios, poderão suportar a realidade.

No fundo, sem que que eu soubesse, rejeitava e não aceitava a tarefa de suportar o fato de ter um filho problemático.

Adorar e amar um filho e ao mesmo tempo não aceitar a verdade que nos é imposta, é uma válvula de escape. Devemos sim, assumir todas as consequências sem usar subterfúgios que possam nos desviar do caminho correto.

A minha entrada no vício representou simplesmente uma forma mais cômoda, pois queria parecer-me anestesiada e não sentir dores, angústias, nem sofrimentos e quando o tempo passasse, eu pudesse voltar com o problema já resolvido. Não tive estrutura para enfrentar o meu problema.

Na época não tive a coragem de assumir. Me acovardei.

Agi por impulsos e não pela razão. Deveria meditar, procurar melhor me orientar com pessoas devidamente competentes, não me deixando levar ao desespero ao primeiro diagnóstico dado.

O inicial impulso de uma pessoa que não admite ouvir talvez uma verdade, é se rebelar com aquele que a dirigiu, e através daquela falta de psicologia daquele médico neuro-pediatra, eu desencadeei injustamente uma revolta contra toda uma classe e isto durou anos.

Hoje não sou contra os médicos, não guardo mágoas e nem rancores, acho apenas que se eu analisasse friamente o que me falaram naquele dia, as circunstâncias, a personalidade, o seu ser, a sua maneira de dar o diagnóstico, os motivos e até o possível erro que pudesse ter cometido, não teria tido minha vida consequências tão drásticas. Me orgulho da medicina e nossa filha INABEL , desde os 8 anos de idade, demonstra uma vontade ferrenha em tornar-se médica. Profissão que erradamente critiquei por longos anos.

Atualmente minha filha é uma candidata a essa universidade, e quando isto se tornar realidade, me sentirei muito feliz.

No íntimo tenho novamente a coragem de confessar, que a maior culpada de tudo que aconteceu, fui eu.

Apesar de tudo , não me envergonho e que minhas palavras sirval de alerta a muitas mães.

Continuamos nossas vidas agora normalmente e Luizinho já com 4 anos. Somente com esta idade é que percebemos que o mesmo vibrou, sentiu e conseguiu compreender o motivo da pequena festinha que fizemos para ele, em seu aniversário.

Logo após, engravidei novamente.. Gravidez esta que não foi normal e ao nascer também prematuramente, perdemos nossa filha SVANIA, depois de 7 horas do parto.

É , nossa vida tinha muitos problemas, mas ainda falo o que sempre nos salvou e nos fez suportá-los, era o nosso grande AMOR que tínhamos entre os quatro.

O tempo corria e em determinada época, embora não mais tivéssemos algum problema, um casal de primos nos inscreveu, sem que soubéssemos , para participarmos de um movimento cristão, ou seja, Encontro de Casais com Cristo. Não sabíamos do que se tratava, mas por curiosidade e sentindo um bom momento para uma parada, uma reflexão, aceitamos tal convite, oficializado por um casal chamado Paulo e Irene. "

 

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CAPÍTULO 22 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 16h59CAPÍTULO 22 - ROMANCE LUIZ E LUICA

" Fizemos o referido encontro de casais, embora eu lá chegando ainda dentro do meu egocentrismo total, jurando que ninguém em hipótese alguma saberia quem eu era e o que tinha feito de errado em minha vida. Para minha surpresa, minha maneira de pensar foi se modificando no decorrer daqueles maravilhosos dias, manifestando desejos de falar.

Após 2 meses, eu e Luiz Antonio coeçamos a dar nosso testemunho de vida, até para ajudarmos outras pessoas com seu problemas e onde somos simplesmente chamados de Luiz e Luica.

Passei a dar também juntamente com INABEL palestras para jovens da faixa etária de 15 a 21 anos, em colégios e outras comunidades, como um protesto contra o tóxico, alertando-os para os perigos das drogas e alcoolismo.

Nesse ínterim, minha visão tornou a piorar bastante, passando minhas atitudes a serem limitadas. Sozinha não mais saía de casa, se antes eu guiava minha filha, daí para frente passei a ser guiada por ela. Ao mesmo tempo, Alceu, nosso querido amigo que tudo acompanhou, por motivos alheios à nossa vontade, afastou-se de nossa casa e nunca mais o vimos, deixando-nos saudades.

Por tudo que nos fez de bom, por isso vai aqui nosso respeito, nosso amor a esse homem maravilhoso.

Pouco tempo depois, contratei uma babá para o Luizinho. Até que demorou a acontecer isso !

Percebemos suas atitudes compreensivas em relação a ele, sem nada nos perguntar. Assustada e ainda desconfiada de todos e recém chegada da Bahia, notamos qualidades diferenciadas na referida moça.

Luizinho apegou-se muito a ela logo de início. Brincava com ela. Aos poucos, ela foi demonstrando um grande carinho por ele, que muito nos cativou. Com isso conquistou-nos. Conforme os dias corriam, passamos a gostar tanto dela e sem que percebêssemos estávamos também substituindo seus adorados pais, que estavam tão distantes, e dali para frente ganhamos nossa terceira filha, que graças a Deus nos acompanhou por muito tempo. Aquela que entrou como babá foi nossa querida filha por afinidade, e todos nós a adorávamos. Seu nome é Neide. Ela todos os anos visitava seus pais verdadeiros e nos correspondíamos muito e assim surgiu também uma grande amizade entre nós e Ostelino e Dalila.

Luizinho não tivera mais tratamento algum. Aos 5 anos, o colocamos em uma escolinha, mas como não sabia brincar com outras crianças, lá não se adaptou. Com 6 anos, o colocamos em uma escola maior, mas o resultado foi o mesmo.

Resolvemos então levá-lo a um pediatra depois de muito tempo. Examinou-o, pediu outra série de exames, inclusive eletrocardiograma e como de nada anormal encontrasse, achou que seu problema seria apenas o de sociabilização, sugerindo-nos uma mudança para uma cidade menor, poderia ser até litorânea, e resolvemos mudar para Santos. Nessa cidade teria mais espaço para brincar ao ar livre, maior qualidade de vida, ar, muito sol, e devido às características da cidade, poderia fazer amizades com mais facilidade. 

Realmente, tudo estava dando certo, inclusive meu marido conseguiu sua transferência para a mesma cidade, passando a representar o departamento de corretagem da empresa que já trabalhava há muitos anos, em todo o Litoral Paulista. "

 

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CAPÍTULO 23 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 16h59CAPÍTULO 23 - ROMANCE LUIZ E LUICA

"  Já instalados em nossa residência em Santos, os três primeiros meses de férias escolares foram maravilhosos. Íamos diariamente à praia, e cada um de nós irradiava saúde e felicidade.

Iniciando o ano letivo, INABEL, Neide e Luizinho, voltaram às atividades escolares. INABEL cursando o 2@ ano do 2@ grau, Neide na 5@ série do 1@ grau e Luizinho foi matriculado na 1@ série em uma escola pequena, embora de muito gabarito, próxima à nossa casa.

Enquanto isso, eu fazia meus afazeres domésticos, conforme minhas possibilidades, contando com a ajuda das minhas filhas.

Luiz Antonio trabalhava muito, com seus grandes clientes.

Nos finais de semana, recebíamos com muita alegria a chegada da minha mãe. Com seus quitutes, sempre disposta e forte, alegrava nosso lar.

Meu marido, extrovertido como era, irradiando bastante simpatia, conseguiu rapidamente se adaptar na nova cidade que escolhemos para morar. Eu, um tanto introvertida e fleugmática, analisava muito as coisas e não as colocava para fora, encontrei menos facilidade em conseguir amizades, e as que fiz, por sinal bem poucas, conservei-as por muitos anos.

INABEL e Neide adaptaram-se no meio social com facilidade impressionante ; INABEL como já narrei, o medo de meu exemplo pudesse trazer consequências, hoje aquela preocupação nem de leve existe. Completava seus 18 anos de idade, estudava muito, e tornava-se uma mulher feita com personalidade marcante, sem traumas ou bloqueios. Comentávamos bastante sobre o passado e nunca me acusou dos erros por mim cometidos.

Nos respeitava muito e por incrível que pareça, tornei-me a melhor amiga que ela possuía, conforme a mesma sempre me dizia.

Luizinho sociabilizou-se com as crianças do prédio, porém notamos que se integrava mais com crianças de menos idade que ele. Tudo corria normalmente e assim se passou um ano. As duas filhas tiveram êxito escolar, o que não aconteceu com nosso filho. Não nos preocupamos e novamente foi matriculado na 1@ série.

EU e a Neide tentávamos ajudá-lo em seus trabalhos escolares, sentindo, porém, que ele tinha uma enorme dificuldade na aprendizagem, e por vezes ficava alheio a tudo. Nós começamos novamente a observar atentamente suas atitudes.

O que mais nos chamava a atenção, eram perguntas inteligentes que o mesmo não teria condições de fazê-las. "

 

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CAPÍTULO 24 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 16h58CAPÍTULO 24 - ROMANCE LUIZ E LUICA

" Luizinho recordava fatos distantes de sua infância com nitidez, com tal clareza, que ficávamos boquiabertos. Cenas em que na época não falava ou andava e nos narrava sem muitas dificuldades. Ao mesmo tempo que isso acontecia, de mostrava desinteressado a fatos atuais, ficando horas num mundo somente seu, ou assumindo atitudes de seus heróis da televisão.

Percebíamos também, um certo desequilíbrio quando tinha que se movimentar mais rapidamente, e ao ficar excitado numa alegria ou irritação, descontrolova-se todo. Quando ficava contrariado , sentíamos que ele tinha dificuldades ao falar.

Gaguejava, balbuciava algumas frases cortadas, trocando sílabas. E como se nada ocorresse, voltava a falar quase normalmente. Sabíamos que isso não poderia ser normal, mas eu relutava em levá-lo a um especialista.

Além disso, minha mãe ao fazer exame ginecológico, foi constatado um câncer. Mais um rude golpe, pois o mesmo já atingia outros órgãos vitais.

Preocupada com ela e o tratamento seria feito em São Paulo, passei longos meses fora de casa.

Durante esse tempo, Luizinho piorou, fazendo coisas absurdas dentro de casa. Voltou depois de tanto tempo a urinar na cama. Defecava no chão do quarto tentando cobrir com o tapete. Começou a não querer ir mais à escola, e também não queria brincar com seus amiguinhos. Grudou-se mais à televisão, não obedecendo ordens de INABEL e Neide para que não assistisse tanto a programas nela passados, embora não obedecendo, continuava dócil como sempre.

As vezes que ia à escola, sua professora me contou que seu rendimento havia caído bastante, mas era compreensível, pois quase não via os pais, e a avó estava doente.

Percebíamos que Luizinho tudo fazia para nos chamar atenção.

Em junho , minha mãe veio a falecer. Deixando um vazio entre nós. A solidão por nós sentida foi muito grande, pois a partir dali, sentimos quanto é importante a uma família , a presença das pessoas que amamos.

Voltei a ter vida normal em nosso lar, podendo assim, refazer e tentar coordenar as lacunas deixadas.

Em consequência de tudo como se podia espera, Luizinho repetiu novamente de ano. Fomos chamados pela direção da escola e fomos alertados para que se nós quiséssemos que nosso filho acompanhasse sua classe, teria que no próximo ano , ter um reforço pedagógico, ou seja, estudar em tempo integral.

Foi aí que nossas preocupações voltaram, pois nós conhecíamos seus limites e possibilidades, e ficamos em dúvida em relação à uma carga horária mais extensa. Teria progressos realmente ?

Por mais que nos perguntássemos, tudo ficava novamente nas interrogações. Resolvemos assumir o problema buscando as respostas para nossas incertezas, novamente na medicina, pois agora eu me achava mais segura, emocionalmente, sem os traumas do passado, e sem restrições para qualquer tratamento médico ou psicológico necessários, que Luizinho tivesse que fazer.

Encontramos uma pediatra aqui de Santos, e expusemos o motivo de nossa visita. Como todos os pediatras que haviam o examinado, ela nada notou de anormal, pelo menos na aparência de nosso filho, embora ficara ao par de todo diagnóstico de passado. Demonstrando um amor profundo à profissão que exerce e sentindo nossas dúvidas, nos aconselhou e também se prontificou a nos acompanhar a um médico  de São Paulo, a fim de refazermos todos os exames genéticos, e assim, de uma vez por todas tirarmos nossas dúvidas em relação ao Luizinho.

Ao mesmo tempo, nos encaminhou a um órgão municipal aqui de Santos, para que nosso filho fizesse alguns testes psicológicos. Os testes foram realizados, e pelos resultados, foi constatado que nosso filho seria uma criança limítrofe. "

 

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CAPÍTULO 25 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 16h58CAPÍTULO 25 - ROMANCE LUIZ E LUICA

 " Se Luizinho fosse para uma escola só de excepcionais, iria sentir a diferença, se fosse continuar em uma escola de crianças normais, teria a mesma impressão.

Nesse espaço de tempo, por recomendação médica, inscrevemos nosso filho numa escola de natação da polícia militar daqui de Santos, para que se desenvolva com mais resistência física, na qual vai indo muito bem.

Iniciamos o tratamento de psico-motricidade, porque sua coordenação motora estava bastante falha.

Conforme havíamos combinado, com a pediatra foi marcado um dia para fazer o exame genético. Na data marcada entramos em contato com o médico indicado. Ouviu atentamente todo o histórico da vida de nosso filho, com muita atenção.

Examinou-o minuciosamente, detalhe por detalhe, avisando que faria todo o possível para esclarecer todo o caso, a bem de nosso filho, e de nós mesmos. Adiantou-nos também , que tal estudo seria um tanto demorado, mas garantiu-nos de antemão , por toda experiência que possuía, podia nosso filho ser portador de alguma anomalia, mas não de Síndrome de Down, e ainda disse que não estava falando isso, somente para nos agradar.

Notamos um interesse fora do comum no referido médico, o qual nos fez acreditar piamente que ainda existe gente maravilhosa., transmitindo muita confiança e amor.

Colheu o sangue de nosso filho e aconselhou-nos a fazermos o mesmo, pois assim elucidaríamos totalmente nossas dúvidas.

Saímos de lá confiantes, aptos para recebermos qualquer diagnóstico; hoje estamos mais preparados para o fato, mas mesmo assim ele nos orientou psicologicamente.

Mas, o importante no caso, é que percebemos sua sensibilidade, embora ele não forçasse esse sentimento.

Encostava sua cabeça na parede e recostado meio para trás ficava olhando nosso filho, mas sua mente trabalhava no sentido de nos dar rápida resposta.

Foi uma sensação magnética. De confiança, respeito e admiração. Sentindo nossa preocupação no pagamento do tratamento, que seria longo, o qual realmente estava fora do nosso alcance, pois Luiz Antonio já havia gasto uma fortuna com o meu tratamento ocular e da reabilitação em relação às drogas e ao tratamento do Luizinho desde o nascimento.

Essa maravilhosa criatura , que anonimamente , através de microscópios e outras técnicas, vai ajudando tantas famílias, se prontificou a nos ajudar , sem cobrar nada e um dia nós o pagaríamos , a importância que fosse, determinada por nós mesmos, e que jamais nos deixaria de atender por esse motivo. Obrigado Dr.Tomas.

Indicou-nos para fortalecer nossa orientação, uma clínica especial de crianças limítrofes em São Paulo, e que lá fôssemos tranquilos, sem nos preocuparmos com qualquer tipo de pagamento, que ele iria expor à orientadora de lá , o nosso caso.

Marcamos por telefone o dia do primeiro contato, e lá fomos.

Ao chegarmos, a senhora que nos iria atender ainda não havia chegado. Ficamos sentados esperando-a numa ante sala e ali pudemos observar detalhes daquele estabelecimento. Eu, meu marido e meu filho. Nós que pensávamos que já tínhamos vivência suficiente, muita experiência e conhecimento de tudo, começamos a nos sentir num mundo novo, que nos era totalmente desconhecido. Ficamos tão pequeninos !

Sem que aquelas senhoras percebessem, notávamos o tratamento que dispensavam àquelas crianças. Que abnegação ! Que amor !

Elas conseguem penetrar no mundo de cada uma daquelas crianças, havendo até igualdade entre elas e as próprias crianças.

Percebemos que algo de anormal havia acontecido. Logo pudemos sentir que era uma briga entre meninos. Mas que beleza. Quanta sutileza, quanta democracia, quanta liberdade de expressão, não havendo barreiras de ordem hierárquica. "

 

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CAPÍTULO 26 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 16h57CAPÍTULO 26 - ROMANCE LUIZ E LUICA

" As professoras dessa escola pareciam todas sorrirem, embora o ambiente estivesse conturbado naquele momento. Ficamos tão absortos com tudo aquilo, que nem percebíamos o tempo passar. Com muita tática, muita psicologia e muito amor, os ânimos foram acalmados, e a ordem e silêncio voltaram a reinar.

Comentei com meu marido: " Que pena morarmos em Santos, pois mesmo tendo deficiência visual, me ofereceria para ser voluntária, fazer qualquer coisa por aquela gente. "

Que coisa maravilhosa ! Por mais que se viva, masi se aprende.

Logo após, a senhora que esperávamos, chegou. Seu nome: Márcia.

Prontamente nos atendeu. Meu marido, posteriormente, relatou-me sua aparência física, pois eu já estava com minha perda visual bem adiantada. Ela para meu marido aparecia com formas reluzentes. Algo estranho. Seus olhos transmitiam confiança, fé e uma carisma marcante. Senti o mesmo. Através de sua voz meiga e suave, notei sua extraordinária personalidade, pois em fração de segundos, ela me fez um bem imenso, fazendo-me novamente me sentir útil e com valor.

Valor esse que há muito havia perdido, devido minhas limitadas atividades. Deu-nos grandes esperanças com relação ao Luizinho, o qual recebera daquela organização toda a assistência que seu caso requeria.

Apresentou-nos uma outra senhora, que se prontificou sem que nos conhecesse a vir até Santos, procurar saber, não ferindo éticas profissionais, o que havia sido feito ao nosso querido filho. Outra maravilhosa mulher. Seu nome, Maria Renata.

Obrigada meu Deus por ter nos colocado diante de tão divinas criaturas.

Saímos dali, jovens, fortalecidos, cheios de fé, esperanças renascidas, sem sonhos, sem ilusões, mas com as tensões aliviadas, tranquilas, e com nossas mentes firmes e objetivas.

Faça um dia, oh Deus, que possamos ajudar com afinco esse mundo maravilhoso e tão pouco conhecido em nosso país e de tão grande valia a muitas mães que não o conhece.

Se porventura, nosso filho, nas futuras aprendizagens escolares, não ultrapassar do ABCD e das quatro operações matemáticas, certeza temos agora, que de alguma forma, ele será útil à sociedade.

Se nossa vida, se um dia transformar-se num livro, pode estar certa, Márcia: "Devo a você " nos poucos minutos que a conheci, me enchi de coragem para expor publicamente ( embora fiz nos movimentos de Casais com Cristo anteriormente ), minhas fraquezas e que elas sirvam realmente de alerta, de exemplo a muitas mães ou casais, que possam, nesse momento, estar passando por uma fase de desespero.

Que elas ou eles não se entreguem, e que saibam que num momento adequado, os caminhos se abrirão, e que somente o AMOR salvará.

Ao sairmos dali rumando para Santos, comentando no carro aquilo que acabávamos de sentir, nos perguntávamos poruqe a sociedade atual sofreu total transformação, pois há muitos anos não tínhamos tal demonstração de amor.

Tentamos a retrospectiva. Ou seja, a volta ao tempo.

Recordamos o amigo distante. As visitas que recebíamos. Como éramos recebidos. Aquele abraço afetuoso, corpo a corpo, quente e fraternal. O vizinho amigo.

Hoje, às vezes, um vizinho clama por nosso amor e amizade e você nem fica sabendo, por total desinteresse.

Temos que trabalhar, comer, vestir-se e tempo de amor e solidariedade sempre falta.

Ficamos descendo a serra conversando, conversando... e já no Litoral Paulista, o calor, nossa casa, nossos filhos, íamos nos sentindo novamente no tempo que estamos, mas com muito mais amor, carinho e respeito. "

 

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CAPÍTULO 27 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 16h56CAPÍTULO 27 - ROMANCE LUIZ E LUICA

" Notamos atualmente que dentro de uma sociedade, ficou bem mais acentuada a marginalização ao deficiente físico e mental. Eu própria sinto, embora não sabendo o porquê, não sou aceita no meio ambiente que hoje vivo. Seria compaixão ? Sentimento esse que não aceito, pois não devemos nos compadecer de quem porventura carrega um defeito físico.

Devemos nos compadecer dos pobres de espíritos, pois estes são os verdadeiros inválidos dentro de nossa sociedade, porque nada fazem por si mesmos e tão pouco a um semelhante.

Seria esta marginalização fruto de conversas fúteis e frívolas das quais não participo e não me agradam ? Ou seria também porque quando tecem comentários sobre as roupas de fulana ou beltrana, eu não me manifesto ? Seriam essas pessoas vazias demais? Não me aceitam porque ainda não as compreendi ?

Para tirar essas barreiras, não teria eu primeiro entendê-las ?

Teria eu que chegar e não esperar que me entendam e assim chegassem a mim ? Estaria eu complexada ? Será que o problema realmente estava em mim ?

De certo modo, sim. Temos que compreender toda uma sociedade, pois esta não se encontra suficientemente preparada para nos aceitar como somos. A verdade é que jamais conseguiremos mudar a mentalidade da humanidade toda, mas sim, nós que deveremos mudar nosso comportamento em relação a elas, entendendo-a, adaptando-se a ela e não exigindo sua transformação.

Mas como pingos de água no mar imenso, vamos lutando para que o deficiente tenha plena aceitação.

Nosso filho também, não pelas crianças, pois são tão inocentes como ele, mas seus respectivos pais em sua quase totalidade, é marginalizado. Foram poucas as pessoas adultas que durante os seus 9 anos de vida, lhe pegaram no colo, lhe deram um beijo, um carinho e a devida atenção. E tenho certeza, pelas perguntas que meu filho faz, ele também já percebeu esta rejeição.

Pode parecer complexos tanto eu repetir : deficiência visual, física e mental. Marginalização e rejeição. Más é realmente o que todos sentimos. Meus complexos, se ainda os tenho, são poucos e acredito já ter vencido esta fase. Tento sempre aprender e ouvir conselhos, nunca mais fugindo a qualquer tipo de problema, mas faço uma pergunta: por que a sociedade quando existe uma promoção de impacto sobre deficiência de saúde, através da imprensa, escrita, falada ou televisada, como por impulso se levanta toda a sociedade ? E quando o impacto passa, tudo volta ser como antes ? Acomodam-se ?

Por que tal solidadriedade não ser dada individualmente ?

Se cada uma das pessoas em nosso país soubesse a quantidade de crianças, às quais não se integram por falta de uma oportunidade, que num simples estender de mãos já seriam de grande ajuda, e se assim fosse, não necessitaríamos de campanhas promocionais alertando uma população. Será que esse Ano Internacional do Deficiente Físico é somente simbólico ?

Vamos nos unir, confessando que nada de positivo também fizemos, a não ser dando palestras para um número reduzido de pessoas, muito pouco para quem quer realmente ajudar o próximo.

Não falo por mim, mas em nome de milhares de famílias que não tiveram a sorte que tivemos, ao cruzarmos com anônimas e maravilhosas criaturas , por quem fomos ajudados.

Não nos tomem como super heróis da vida, nem como um casal perfeito. Temos muitas falhas. Não interpretem nossas vidas como um mundo cão, mas que nossos erros sirvam , como já disse, de grande alerta para todos. E se porventura, por uma razão, talvez bem maior que a nossa, de sofrimento, tenham forças, muita fé, reajam contra o destino.

Hoje posso falar orgulhosamente, pois mesmo passando por tudo que passamos, estamos juntos, bem juntinhos, aquele AMOR tão infantil nascido num dia tão distante , naquela praia deserta, e hoje o AMOR é bem maior e o juramento feito diante do altar continua o mesmo. Sólido e inabalável.

Claro que mudamos fisicamente, envelhecemos, tivemos feridas que nos marcaram, mas nosso lema sempre será : o AMOR, a verdade e a justiça. "

 

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CAPÍTULO 28 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 16h55CAPÍTULO 28 - ROMANCE LUIZ E LUICA

" Como perceberam no que narrei no início deste até agora, descemos a serra e estamos novamente na praia, e Deus agora nos envia maravilhosas ondas, subindo as marés fortemente para refrescar nosso lar com muitas felicidades, atingindo em cheio o AMOR que jamais onda alguma levará.

Realmente está se apagando o olho de meu corpo, mas se acendendo o olho de minha alma. O verdadeiro cego é aquele que não quer ver, e não o que não pode ver, como diz o provérbio popular.

Não interpretem que estou querendo ensinar métodos de vida a alguém, não julguem também que queremos ser os campeões de sofrimento, os heróis, somos sim reservas da vida, aguardando levantar juntos com outros irmãos, a taça da vitória.

Se meus olhos vierem se apagar totalmente no futuro e já a Deus os entreguei,... Peço-lhe apenas, que não me tire o poder da fala, pois meus lábios que antes se enrijeciam e ficavam secos, se abrirão sempre para transmitir,falando ou ditando, muito AMOR e FÉ.

E minhas mãos que antes se contorciam de dor , na falta dos remédios, hoje elas se estendem para segurar firmes a quem delas precisar.

Por incrível que pareça, acredito , apesar de tudo, que o que já passamos em nossa vida, foi uma verdadeira história de AMOR.

Calor e frio. Doce e amargo. Noite e dia. Sal e açúcar.

Foi simplesmente uma vida intensa e se perguntarem se casaríamos novamente, depois de tudo, responderíamos sem medo de errar. Sim, e até que a morte nos separe. E quem sabe até a eternidade.

Nem culpo meu marido, nem ele a mim por tudo que fizemos, mas pudemos sentir que o AMOR venceu.

E com AMOR, tudo passa, tudo se resolve, se esclarece.

Essa foi nossa vida. Se novos revezes nela vierem e acontecerem, estaremos firmes e unidos, mas peço a Deus para que nos reserve um pouquinho só de descanso nos poucos momentos que nos restam para viver.

E para finalizar, transcrevo aqui uma homenagem que meu marido me fez logo após eu ter vencido as minhas crises, e quero transferí-la agora às mães mais fortes e com mais merecimento que eu, tão lindas palavras que julgo não merecer. "

 

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CAPÍTULO 29 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 16h54CAPÍTULO 29 - ROMANCE LUIZ E LUICA

" Transcrevo aqui a poesia que meu marido fez em minha homenagem.

 

 Morena, pequena, olhos grandes

 Confiante, meiga, sincera

 Face serena, companheira tão

 Eterna, mãe extrema e 

 Carinhosa com amor a todos

 Espera.

 

 Alegre, seguindo, caminhando

 Sempre junto está. Nessa vida

 Tempos longos e amargos,

 Passando, e mesmo sorrindo

 Gentil. Embora escondendo.

 Eu sempre sentia que estavas

 Chorando.

 

 Grito, falo, brado, removo,

 Enalteço teu nome...

 

 Pensando no tempo. No tempo que 

 Estamos, juntinhos, juntinhos... sempre...

 Sempre ficamos.

 

 Morena, pequena mulher

 De verdade. Teu jeito meiguice,

 Nem sei quem me disse

 Mas disse sincero e com muita

 Bondade. Mulher... tens tu que a ti

 Só te aplica, mulher tão pequena

 Tão grande

 LUICA. "

 

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CAPÍTULO 30 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 16h53CAPÍTULO 30 - ROMANCE LUIZ E LUICA

Agora eu, INABEL, continuo o romance, pois minha mãe interrompeu a escrita, quando eu ainda tinha 20 anos.

 

Como eu queria fazer medicina, tentei por inúmeras vezes e por dois anos entrar na faculdade de medicina e não consegui. Era muito difícil e senti que isso foi um grande baque para minha mãe e meu pai.

Minha mãe estava bem, apesar de sua perda visual, meu pai trabalhando em SP, morávamos em Santos e ele subia e descia a serra todos os dias , era muito cansativo.

Como Luizinho, em Santos, não estava se adaptando nas escolas, meus pais resolveram mudar para São Paulo e aí sim ele poderia frequentar aquela escola com educadoras tão competentes, a Escola Novo Esquema.

Mudamos então para Sampa , para o bairro de Moema e como eu  não conseguia entrar em Medicina, entrei nas outras opções que havia colocado: psicologia na OSEC e METODISTA, e Biomédicas em São José do Rio Preto.

Optei pela psicologia na Metodista, que fica em São Bernardo do Campo.

Como meu pai havia gasto muito com o tratamento de saúde de minha mãe e Luizinho, resolvi começar a trabalhar meio período, mesmo meus pais se opondo, para ajudar a pagar minha faculdade.

Meu primeiro emprego foi na Loja Arigatô, no Shopping Ibirapuera, uma loja de artigos importados.

Trabalhava meio período pois já estava cursando Psicologia e ia de ônibus fretado à Universidade.

Trabalhei por 6 meses lá, até que consegui uma vaga como recepcionista, fazia as matrículas no cursinho OBJETIVO, matriz localizado na Av. Paulista.

Fiquei também por um período de 6 meses , agregando experiência e meu pai conseguiu, por meio de um amigo do antigo Banco e Comércio de Minas Gerais, um emprego para mim, no Banco Nacional. Sempre com um bom aumento salarial.

Adorava trabalhar no banco , em três meses de banco fui promovida à assistente da gerência e em um ano, promovida à sub-gerente.

Nossa vida transcorria muito bem e feliz.

Como eu estava muito cansada e não estava conciliando o trabalho no banco e a faculdade de Psicologia, após três anos cursados, resolvi trancar a matrícula e optar a me dedicar ao banco.

No decorrer dos anos , eu já estava com 20 anos, e brincando um pouco, humor negro, rsrsrs, se tragédia pouca fosse bobagem, minha mãe foi diagnosticada com câncer de mama.

Novo golpe duro da vida, um baque muito grande, depois de tudo que minha mãe havia passado, vinha mais essa .

Será um carma de vidas passadas ? Quanto sofrimento ! Uma mulher de apenas 41 anos com um tumor enorme no seio. Há 35 anos atrás não havia tanta informação como hoje sobre prevenção do câncer de mama.

Meu pai, coitado, mais uma batalha a vencer.

Luizinho cada ano que passava , melhorava e progredia na escola. Estava com 11 anos.

Eu não aceitava a doença da minha mãe, fugia, saía do trabalho e ia para barzinhos com os amigos do banco. Não aguentava chegar em casa e ver minha mãe naquele estado.

Hoje me arrependo que não acompanhei a minha mãe como deveria fazer uma boa filha.

Chegou a época da cirurgia, tirou o seio esquerdo,mastectomizada lateralmete e naquela época também não se reconstruía o seio na hora da cirurgia. Portanto, eu achava que minha mãe estava mutilada e eu não queria enxergar a realidade. Fugia dela todos os dias. Era terrível.

Começaram os tratamentos com radioterapia, quimioterapia; tratamento duro, minha mãe vomitava, passava muito mal. Devido à retirada total também das glândulas axilares do lado esquerdo, seu braço esquerdo vivia inchado.

E o mais terrível aconteceu, que não sai da minha memória; minha mãe ao entrar no chuveiro para tomar banho, me chama aos gritos, sendo que seu cabelo havia caído no chão totalmente e ficando completamente careca.

Meu chão abriu, não sabia o que fazer, as duas choravam ao mesmo tempo. Era um dos terríveis efeitos colaterais do tratamento.

Tentei consolar minha mãe naquele momento, meu pai estava trabalhando, mas eu mesma não tinha forças para suportar aquele problema. Os problemas anteriores que haviam acontecido, eu os superei , mas o câncer de mama da minha mãe, eu não aceitava.

Eu , ao mesmo tempo que tinha pena da minha mãe, tinha vergonha, revolta de tudo que estava acontecendo.

E me refugiava no trabalho, no banco e nos amigos.

Meu pai, mais uma vez, demonstrou seu grande amor, acompanhando minha mãe em todos os tratamentos e consultas, tentando conciliar seu trabalho.

Meu Deus, até hoje me questiono, como eles tinham uma sintonia e um amor de verdade. Será realmente um amor de vidas passadas ? 

Mamãe , frágil, com sua carequinha, para sair usava uma peruca, que na época, não existiam perucas tão perfeitas assim.

Mas, com toda sua resiliência , fazia todo o tratamento que lhe era imposto.

Aceitava mais uma vez a SUA realidade.

 

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CAPÍTULO 31 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 16h48CAPÍTULO 31 - ROMANCE LUIZ E LUICA

Minha mãe fazia seu tratamento direitinho, e eu continuava na minha vida.

Havia trancado a matrícula da faculdade de Psicologia no terceiro ano, pois não estava conseguindo conciliar o trabalho no banco, o dia inteiro, em Moema e o estudo à noite, em São Bernardo do Campo.

Em 1985, num curso do Banco Nacional, conheci meu futuro marido.

Namoramos por 11 meses e resolvemos nos casar. Essa notícia foi meio um golpe duro para meus pais, pois minha mãe ainda estava doente e minha ausência poderia piorar a situação.

Mas eu queria seguir minha vida e meu pai tocou a vida dele, com  minha mãe e Luizinho, como sempre.

Casei-me e fomos morar num apartamento no bairro da Vila Mariana, os dois trabalhando no Banco Nacional.

Após um ano de casada, resolvi sair do banco e fui ajudar meu marido em sua locadora de fitas para vídeo. O meu marido também resolvei sair do banco, alguns meses depois de mim.

Só que sofri um assalto na locadora, fiquei extremamente traumatizada e não queria trabalhar mais. Tinha medo de sair de casa, em São Paulo, e passava os dias na casa da minha mãe, que já estava bem recuperada do câncer. 

E o mais interessante é que depois que casei, que saí de casa, passei a ter um relacionamento muito melhor com meus pais, principalmente com minha mãe.

Passei a aceitar a sua doença , a acompanhá-la em seus médicos, dei maior atenção a ela.

Acho que a partir que vamos amadurecendo, vamos aceitando mais a nossa realidade.

Só que após o assalto na locadora, meu marido quis mudar-se de São Paulo e nos mudamos para Promissão, cidade onde sua mãe nasceu e onde morou muitos anos com a avó.

Outro baque para meus pais, que eram  muito ligados a mim, eu ficaria longe deles, a uma distância de mais de 500 km.

Agora, vocês podem imaginar como foi difícil para mim adaptar-me a uma cidade pequena do interior de SP. Nada contra a cidade, mas para mim que sempre morei em cidades grandes, cosmopolitas, como São Paulo, capital, Nova Iorque, teria que me adaptar .

Morar lá foi mais uma experiência, sentia muitas saudades de minha família, trocávamos cartas toda semana. Naquela época ainda não tínhamos acesso a computador, celulares. Só telefone, o que era muito caro falarmos todos os dias. O famoso interurbano rsrsrsrs.

Interessante que nesse ano que morei lá, engravidei e tive minha filha Camila. Foi uma gravidez tranquila, saudável, eu me alimentava muito bem, tudo muito fresco, colhia verduras da horta.

Foi um ano para ter minha filha, só que após seu nascimento, me sentia muito sozinha lá, queria estar com meus pais, meu irmão, e sentia falta da minha independência de quando trabalhava no banco.

Tanto perturbei meu marido, que consegui voltar para o Banco Nacional, voltei para SP, na frente , com minha filha e meu marido voltou depois.

Alegria infinita para minha família que fiquei hospedada na casa dos meus pais. Eles ficavam com Camila, enquanto eu trabalhava.

Camila era uma bênção para eles, e minha mãe estava praticamente curada, fazia apenas um tratamento para que a doença não voltasse.

Todos estávamos muito felizes ! E três meses depois , meu marido, veio também para SP e conseguiu também retornar ao seu trabalho no Banco Nacional.

Eu agradecia a Deus e sentia que éramos um casal abençoado, que na epóca , em 1989, mais ou menos, emprego já era difícil e era governo Collor.

Mas, ficamos com meus pais por aproximadamente um ano e necessitávamos voltar a ter a nossa própria casa, o nosso lar.

Meu marido não gostava de SP, capital, eu não queria voltar para o interior, e sugeri que voltássemos para Santos, lugar onde morei anteriormente com meus pais e que gostava muito. Uma cidade litorânea, com praia, que amo, cidade pequena, mas que em tudo que uma cidade grande pode proporcionar. Uma cidade com muito lazer !

Nos mudamos para Santos, e mais uma vez me separei dos meus pais.

Pedimos transferência de agência para o Banco; eu fui trabalhar num posto bancário em Cubatão, cidade próxima a Santos e o marido no ABC Paulista. Ele subia e descia a serra todos os dias.

Prosperávamos a cada dia, éramos funcionários dedicados e responsáveis, minha filha Camila se adaptava muito bem na escolinha.

Mas a saudade apertou novamente e meus pais, com Luizinho, resolveram também mudar-se para Santos.

Era pura alegria !

 

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CAPÍTULO 32 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 16h45CAPÍTULO 32 - ROMANCE LUIZ E LUICA

Minha família então mudou-se para Santos e eu estava radiante de felicidade que eles estavam ao meu lado.

Eu ia jantar na casa deles quase todos os dias com a Camila. Saía do banco , pegava minha filha e ia ao encontro dos meus pais e irmão.

Eu já era gerente adjunto no Unibanco e meu marido, Gerente Regional, cargo de muita confiança e somente um grau abaixo da diretoria.

Dez anos havia passado desde que apareceu o câncer na minha mãe, a meu ver ela estava curada, mas infelizmente começaram a aparecer novos sintomas da doença.

Meus pais fumavam muito e tinham uma vida sedentária.

Bem, havia aparecido metástases nos ossos e pulmão de minha mãe. A tristeza voltou.

Como eu havia trancado a matrícula da faculdade de psicologia, resolvi voltar a estudar, já que Camila estava maior. Entrei em Administração de Empresas, porque estava muito relacionado ao meu trabalho do banco.

Meus pais ficavam com Camila à noite para eu poder estudar.

E minha mãe , praticamente ia todos os dias na Santa Casa realizar o seu tratamento.

Tomava apenas radioterapia nas áreas afetadas pela doença.

Três anos se passaram e anteriormente mamãe pelo menos não estava com a doença avançada, estava sob controle, mas comecei a reparar que ela já não estava tão bem como antes.

Em um ano, infelizmente, o câncer retornou , seus ossos estavam muito enfraquecidos, foram tomados também pela osteoporose, suas costelas quebravam somente ao respirar mais profundamente.

Estava com tanta perda óssea e muscular, que já não andava mais. Estava numa cadeira de rodas.

Aí novamente eu converso com Deus : o que uma criatura como minha mãe tanto fez de mal para merecer uma vida tão conturbada, uma saúde tão frágil, desde a cegueira, até o câncer ?

Será que ela estava pagando algum dano que fez em vidas passadas ?

Nunca procurei um centro espírita desde que ela faleceu, mas um dia irei, até para tentar esclarecer algumas dúvidas e ter algumas respostas.

Só que como falei em capítulos anteriores, minha mãe era tão resiliente com tudo que acontecia com ela, que aceitava o seu próprio destino e procurava sempre nos consolar e nos dar amor.

Acho que o espírito da LUICA ( minha mãe) já encontrava-se muito evoluído.

E, num dia de sexta feira, dia 05 de março de 1992, saí do banco com uma intuição ruim, parecia que algo iria ocorrer. Eu estava esquisita e parece que sou sensitiva, às vezes sinto realmente coisas que irão acontecer.

Peguei Camila na escolinha e a deixei na casa dos meus pais , como de praxe, mas senti minha mãe muito, muito quieta, mais até de costume. Ela sempre foi uma mulher reservada, nunca foi de falar muito. Mas naquele dia minha mãe estava ainda mais instrospectiva. Meu pai era mais extrovertido.

Ao sair para ir para a faculdade, ao despedir de minha mãe , ela só falou  " Fique com Deus, minha filha. "

Frase que eu me lembre, não havia me falado há muitos anos.

Aquela frase, na hora, não percebi, mas acho que ela havia se despedido de mim.

Ao voltar da faculdade, eu não estava bem, eram 11 horas da noite, bati até meu carro no portão do prédio. Alguma coisa estava errada ...

Normalmente, meu marido quando chegava do banco, de sexta feira, já ia até meus pais pegar a Camila e me esperava em casa.

Mas subi no meu apartamento e eles  não haviam chegado. Naquela época ainda não existia  celular.

Assim que abri a porta, o telefone tocou; era meu marido pedindo que fosse até a casa de minha mãe. Realmente havia acontecido alguma coisa e ele não me falara.

Ao chegar lá , me deparei, minha querida mãe havia falecido, e a última pessoa que a vira com vida, foi minha filha Camila, pois estavam de mãos dadas quando minha mãe desencarnara.

Realmente, foi um dos dias mais tristes de minha vida, pois aquela mulher guerreira, que tanta dificuldade passara na vida, uma mulher que praticamente fez sozinha que seu filho andasse, falasse,... , uma mulher de verdade havia agora literalmente descansado .

Aquela menina de treze anos, do início desse livro, já não existia fisicamente, mas estará sempre na minha memória.

Aquela morena pequena, mulher de verdade, quem sabe , um dia irei reencontrá-la e lhe abraçarei com muita saudade.

Não pratico a religião espírita, mas acredito sim que ao desencarnarmos vamos para algum lugar, que encontraremos nossos entes queridos falecidos há mais tempo e que até muitas interrogações do que acontece em nossas vidas serão esclarecidas.

Tem que haver uma razão para muitas mortes, até prematuras, tem que existir um porquê, uma justificativa.

Será que realmente vivemos em outras vidas e voltamos na atual com as mesmas pessoas, até para pagar dívidas passadas ?

Não pode existir a frase, que ouço constantemente, por muitas pessoas. " Morreu, virou pó." Não, não é possível e não acredito nisso.

Tem que haver uma razão por tudo que acontece em nossa vida.

 

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CAPÍTULO 33 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 16h43CAPÍTULO 33 - ROMANCE LUIZ E LUICA

Após a morte de minha mãe, ficamos ainda por um bom tempo não acreditando que ela havia partido.

Eu e meu marido trabalhando muito no banco, eu continuava com a faculdade de Administração de Empresas, Camila estava crescendo linda e forte, meu pai morava com meu irmão.

Meu pai estava sentindo muito a sua ausência, mas eu continuava a deixar minha filha lá à noite com ele, para ir estudar.

Era até uma distração para ele, que estava muito apegado à Camila.

Meu pai sentia tristeza até por ter feito, a vida inteira, tudo junto com  minha mãe, como narro aqui em todo o livro , e de repente se vê sozinho.

Foi muito duro , mas como ele mesmo dizia, a vida tem que continuar.

Após um ano do falecimento da LUICA, engravidei do Leonardo, o que nos fez todos muito felizes.

No oitavo mês de gestação, tranquei a matrícula da faculdade de administração de empresas e não consegui mais voltar, após o nascimento do Leo, sentia pena em deixá-lo também à noite, pois continuava a minha carreira bancária.

Quando o Leo fez 2 anos, resolvi voltar a estudar , o banco me cobrava um ensino superior.

Resolvi fazer Letras, por ser um curso mais rápido e fácil para eu terminar, pois adoro ler e escrever. E mesmo trabalhando em banco foi muito útil, pois é muito importante um funcionário saber escrever, falar corretamente e tínhamos muitos emails a fazer.

Consegui me formar , consegui o meu tão sonhado diploma. Que coisa , não era de medicina como eu queria , mas fui para uma carreira bancária , com muito orgulho, porque tudo que conseguimos foi fruto de nosso trabalho. E com formação em Letras, que amo. São as voltas que a vida dá. 

Nesse meio tempo, comecei a perceber que meu pai não andava bem, começou a ter problemas cardíacos.

E foi tomando banho para passar a véspera de Natal conosco, que meu pai teve um enfarte fulminante e faleceu. Leonardo tinha 4 anos e lembra até hoje perfeitamente de seu avô.

Era 24 de dezembro de 1998. Mais um golpe na minha vida.

Me revoltei na época, como meus pais haviam partido tão prematuramente ? Minha mãe com 51 e meu pai, com 61 anos ?

Todos os meus amigos praticamente ainda tinham seus pais vivos, reuniam-se nas festas, nos almoços de família, Natal, Ano Novo e eu não os tinha mais.

Mas foi por tudo que passei na minha vida, adquiri muita experiêcia e passei a enxergar o que nos acontece com mais naturalidade.

E pais que perdem seus filhos ? Eu perdi meus pais, que é a lei natural da vida e sei que tudo o que nos acontece, tem que acontecer. Já estava escrito.

Deus nada faz errado.

E sinto até que pela cumplicidade, AMOR, que meus pais sentiam um pelo outro, senti que minha mãe veio buscá-lo. 

Aqueles dois jovens, do início dessa narrativa, de 13 e 17 anos, que se conheceram , que tiveram uma vida cheia de emoções, agora literalmente poderiam viver felizes o seu AMOR, na eternidade.

E como já citei anteriormente, acredito numa além vida, vida num outro hemisfério, na eternidade. Não é possivel morrermos e virarmos pó. Tem um porquê de passarmos por tudo na vida terrena e um dia estarmos juntos novamente, numa vida eterna. E até a eternidade, para mim fica uma interrogação. Será que realmente reencarnamos em outras vidas para pagarmos possíveis dívidas com nossos entes queridos, em vidas passadas ?

Fica a dúvida e o consolo de um dia podermos nos reencontrar.

Sou católica, mas acredito muito na filsofia espírita e acredito sim que um dia irei encontrá-los e sei, sensitiva que sou, tenho a certeza que de onde eles estão , irradiam muita luz e energia positiva para todos nós, para as nossas vidas, para mim e para meu irmão.

E onde eles estiverem , estão muito orgulhosos que tive a CORAGEM de escrever a nossa vida.

CORAGEM sim, vergonha nunca. 

CORAGEM porque não é fácil você expor toda uma vida, abrir a sua realidade.

Mas, tenham certeza, que quem sabe o que escrevo aqui vire realmente um livro, realizando um sonho dos meus pais, e que o conteúdo aqui exposto sirva para o bem, até como um exemplo para outras pessoas que possam ter problemas semelhantes e que sirva efetivamente para ajudar alguém.

 

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CAPÍTULO 34 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 16h41CAPÍTULO 34 - ROMANCE LUIZ E LUICA

Após o falecimento do meu pai, Luizinho foi morar conosco.

Ficou um ano e depois partiu para a vida sozinho, até para poder literalmente crescer, amadurecer .

Quem diria, né, aquele menininho frágil, ter que caminhar sozinho, com as próprias pernas. Mas caminhou, aprendeu e cresceu.

Eu segui minha carreira bancária, juntamente com meu marido, sendo que saí do Unibanco ( banco que comprou o Banco Nacional em 1994 ) e fui para o Santander, chegando à gerente geral de uma agência em São Paulo, na Av. Faria Lima.

Trabalhei 5 anos no Santander, e recebi uma proposta para ir para o Banco Safra, em Moema, SP. Após 2 anos vim transferida para agência de Santos, trabalhando nessa empresa por mais cinco anos.

Foram 20 anos entre Banco Nacional e Unibanco, 5 anos de Banco Santander e 5 anos de Banco Safra.

Só tenho a agradecer porque tudo que consegui foi fruto de meu trabalho, sempre em conjunto com meu marido.

O meu marido ao sair do Unibanco por volta de 2002, acabou fundando uma empresa de Educação Executiva e Consultoria dos Fundos de Previdência das Prefeituras.

Em 2015, recebeu uma proposta e vendeu as empresas. 

Em 2009, eu talvez cansada do trabalho em banco, fiz um acordo com a última empresa e finalizei meu trabalho.

É o que falo na introdução do meu blog, agora estou aproveitando muitas coisas que não fiz anteriormente, pois não vi meus filhos crescerem e pude aproveitá-los .

Passei a cuidar mais da minha saúde, comecei a fazer pequenas caminhadas e cheguei a participar de competições em outros estados.

Hoje, me exercito diariamente numa academia.

Fiz curso de modelos para jovens senhoras, e participo de muitos eventos e desfiles.

Fiz muitas amizades e sempre vou a encontros e reuniões.

Resolvi fazer o BLOGMULHERMADURA  para mostrar a muitas mulheres da minha faixa etária que podemos ainda realizar muitas coisas prazerosas e sermos felizes.

A expectativa de vida aumentou, a mulher de 60 corresponde a 50, a de 40,30 e por aí vai.

Falo sempre de auto estima, depressão ... , problemas que todas nós passamos , pois ninguém é feliz 100%, todos nós temos problemas e maior exemplo disso é esse pequeno romance que acabo nesse capítulo, de escrever.

Quem sabe, tudo isso narrado sirva para ajudar e leventar muitas mulheres, e até homens, que estejam passando por problemas parecidos.

Minha filha Camila , está estudando Nutrição e tornou-se mãe do Enzo, há 4 meses, dando-nos um lindo netinho.

Meu filho Leonardo formou-se em Engenharia de Produção, e está adentrando nesse mundo interessante que é o mercado financeiro e tecnologia.

Hoje ,meu filho e marido fundaram uma nova empresa, o Grupo Criando Valor, voltado à Educação Executiva e o que há de mais atual no mundo da tecnologia.

E meu irmão, o Luizinho, formou sua família, tem uma linda esposa e uma linda filha, com o mesmo nome da minha mãe, Luiza Catarinha, a Luiquinha. Uma bela homenagem.

Ele possui os seus ideais políticos, sua própria filosofia, somos diferentes, mas hoje eu o respeito, nós nos respeitamos e vivemos nossas vidas.

E, lá de cima, lá do CÉU, tenho a certeza que LUIZ e LUICA nos olham, orientam , nos protegem e confirmam que sim, nossa vida teve muitos maus pedaços, mas tudo o que nos aconteceu, deveria ser assim, sem mais, nem menos e nos serviu de experiência, de aprendizado e o que sempre nos manteve unidos e prontos para suportar qualquer coisa, qualquer obstáculo foi o 

AMOR.

 

                                                    FIM

 

 

 

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Barão de Antonina

19 de setembro - 17h47Barão de Antonina

Essas fotos eram no Núcleo, meu avô José Nabor de Vasconcellos era o engenheiro agrônomo, topógrafo e chefe da imigraçãoe Diretor da Nucleagem.

Meu avô casou com minha avó Hina Shelludiakoff, que veio da Rússia, ainda pequena, com meu bisavô Alexandre Shelludiakoff, minha bisavó Catarina e a irmã, tia Angélica.

kiss

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Minhas raízes

12 de agosto - 14h39Minhas raízes

E aqui vai um pouco mais da minha história.

Sou descendente de russos.

Meus bisavós Alexandre e Catarina e minha avó Hina Shelludiakoff, nasceram em Wladisvostok, na Rússia.

Nas fotos, meu bisavô estava saindo da Rússia, por conta da queda do Czar, de barco, até a China.

Lá nasce minha tia Angélica(morou toda a vida nos Estados Unidos ) e logo depois embarcam num navio, rumo ao Brasil.

O terceiro filho, tio Wadim, é brasileiro.

Foram para Barão de Antonina, no estado de São Paulo, Núcleo, como assim era chamado o lugar, por abrigar muitos imigrantes, formando as colônias.

Minha avó Hina, com 16 anos, casa com meu avô José Nabor de Vasconcellos, um engenheiro agrônomo da região, com 44 anos.

Dessa união nasce minha mãe, Luiza Catarina e aí segue a história...

kiss

 

 

 

 

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Balneário Flórida

16 de julho - 16h13Balneário Flórida

E nesse mês de julho tive a alegria de ir ao bairro de Balneário Flórida, na Praia Grande e rever a casa onde passava minhas férias escolares, de dezembro a fevereiro.

Fui com meu marido, filha, genro e neto.

Foi uma grande emoção pois revivi os bons momentos com meus pais, por volta de 40 anos atrás.

Lembro que quando meu pai vendeu a casa, eu tinha 15 aproximadamente 15 anos, peguei minha bicicleta e fui até à praia.

Chorei muito, mas prometi um dia voltar.

E assim foi feito, voltei, com a família que eu formei e quem sabe , um dia, possa comprar de volta essa casa.

E sou paulistana,  hoje não moro na Praia Grande, mas voltei para uma cidade de praia,sol e mar, minha querida Santos.

Por esse motivo falamos o seguinte ditado : O MUNDO DÁ VOLTAS e dá mesmo.

Ainda bem !

smile

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Minha mamãe

12 de junho - 14h42Minha mamãe

E aqui tenho uma foto com minha linda mãe Luiza Catarina, quando morávamos em New York, Estados Unidos.

Saudade !

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Minha avó Hina

12 de junho - 14h40Minha avó Hina

Aqui está um documento histórico que meu irmão Luizinho achou em um site sobre os imigrantes do Brasil, onde encontrou o registro de estrangeiro de 1943 de nossa avó materna Hina, que veio da Rússia para o Brasil em 1917.

FATO !

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Tia Mariene

19 de março - 18h42Tia Mariene

Faço aqui um capítulo especial para essa mulher maravilhosa , minha tia Mariene, irmã do meu pai, Luiz Antonio, falecido.

Uma mulher linda, vaidosa, cheia de vida , animada, sempre disposta a ajudar e servir a todos que a rodeavam.

Faleceu na data de hoje, dia 19/03, aos 84 anos.

Viveu toda uma vida lindamente, nos últimos 10 anos, vítima do Alzeimer, já não reconhecia nenhum ente querido.

Faço aqui essa singela homenagem a essa mulher, que era praticamente minha única familiar direta ( tia ) viva e por quem eu tinha toda minha admiração.

A tia Mariene, teve muita influência na minha vida, na minha infância, em tudo que vivenciei nesse meu pequeno livro, ela mesma, tia Mariene estava presente praticamente em todas as situações.

Que ela descanse em PAZ agora e se existir realmente vida após a morte, que ela reencontre meus bisavós, meu tio, meus pais, meus avós, minha irmãzinha Svanya que pouco tempo esteve na terra e que seja recebida com as bênçãos de Deus. E de onde todos estiverem, que emanem e nos enviem muita LUZ para continuarmos nossa missão aqui na dimensão terrena.

 

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