Lembrando que toda história é contada em primeira pessoa, pela minha mãe, por isso coloco sua fala entre aspas.
" Um dia conversando com um colega de meu marido, humilde, que começou com ele no banco como office boy, ( e não teve a mesma sorte que ele nas promoções), fiquei chocada ao saber que Luiz Antonio exigia ser chamado de SENHOR. Como um subalterno poderia se dirigir ao superior hierárquico sem chamá-lo de SENHOR. A elegância, o perfume, era muito mais importante que tudo mais e as noitadas continuavam. Ele realmente se achava o máximo.
Minha visão piorava gradativamente. Mas para que reclamar ? Ele pagava aos médicos o tratamento para a minha doença, uveíte. Notava que muitas coisas eu já não fazia sozinha, mas mesmo assim, continuava dando aulas, contando até com a ajuda dos colegas para a correção dos trabalhos e provas. INABEL crescia bonita e viçosa, embora muitos comentassem que era uma menina de olhos tristes.
Tudo continuava como antes, até que comecei a notar que algo estava acontecendo, mas não conseguia me situar. Chegava em casa e lá já encontrava meu marido, com ar bastante preocupado, quieto, tristonho. Que estranho ! Não tinha noitada hoje !, eu pensava. Percebi que alguma coisa ele tinha para me dizer, apesar que nada eu lhe perguntava, porque tinha sido obrigada a agir assim.
E assim me acostumei. Num determinado dia, se ofereceu para me levar à escola, dizendo-me que à tarde iria com INABEL me buscar. E foi nesse dia que me contou que havia tido uma discussão, briga feia com seu chefe , e como já sabiam de seu gênio forte até com outros superiores , não havia conseguido nem sequer uma transferência de agência. Quer dizer, o respeito que ele exigia de seus subordinados, não conseguia colocá-lo em prática no seu tratamento à própria chefia . Que ironia !
Estava desempregado.
O homem nessa situação encontra-se acabado. Estava em depressão. E foi o meu AMOR, que o ajudou a se levantar. O amor daquela mulher que ele tanto desprezava no início do casamento.
Por mais que ele procurasse emprego, enviasse currículos, ele não encontrava. Ele não queria qualquer emprego, queria um que ainda sustentasse seus caprichos e a vida que tinha anteriormente.
Nessa mesma ocasião, tentei me efetivar por tempo de serviço, mas após laudo médico, além da uveíte , estava com glaucoma e consequentemente consideravam-me impossibilitada para exercer minhas funções escolares. Ficara afastada por licença médica e com um rendimento muito baixo.
Todos os meus sonhos ruíram. Tivemos que vender a casa, a mesma casa que havia pedido ao Luiz Antonio para não comprar, há anos atrás.
Até hoje meu marido cita que ele se levantou, através do meu AMOR, da força e fé da mulher que ele havia menosprezado. E que o machão na hora que se vê encurralado, torna-se covarde, sem forças para sair da fraqueza que fatalmente se apodera de tais indivíduos.
E esta força , diz ele ter conseguido com uma morena pequena, frágil fisicamente, mas muito grande espiritualmente.
É, o mundo dá voltas, aquele homem prepotente, hoje precisa de mim e está frágil. Ninguém é melhor que ninguém, e é nessa vida mesmo que pagamos o que fizemos .
Minha visão piorava e como o médico me dizia que pouca coisa poderia ser feita, eu e Luiz Antonio resolvemos ir para os Estados Unidos, para que eu tentasse encontrar algum tratamento que até me curasse ou retardasse minha cegueira.
E foi assim que resolvemos efetivamente ir para os Estados Unidos.
Não me seria fácil deixar quem me eram muito caros, meu pai inválido, por conta de um AVC, minha mãe , mesmo com todo seu domínio, nos apoiava e nos ajudou, e minha sogra com o seu grande otimismo. "
Quinto capítulo nos próximos dias ...
Não percam !
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