" O médico recebeu a resposta que eu estava nessa época com uveíte e glaucoma, porém já operada. Fornecí-lhe detalhes sobre a mesma, informando-o que as causas de minha enfermidade visual, embora já houvera feito uma série enorme de exames, continuava sendo não diagnosticada, com leves suspeitas de algum tipo de vírus.
Após ter ouvido todo nosso relatório, depois de muito pensar, eu achei que ele fosse nos dizer algo animador, estávamos preparados a ouvir uma verdade, fosse ela qual fosse, pois sendo um médico de renome, teria psicologia suficiente de nos dizer o que observou em nosso filho, de uma maneira sutil, embora para isto não fosse obrigado.
Virando-se para mim, aparentando uma surpreendente calma e um certo descaso, vim a conhecer o mais frio e desumano diagnóstico. Ou seja, disse-me que meu filho tinha todas as características de um retardo mental, que jamais andaria, jamais falaria, que jamais conheceria pai , mãe e irmã, e que dependeria de nós para o resto de sua vida, possivelmente vegetativa. Acrescentou também , que o levássemos a um cardiologista infantil, pois poderia ser portador de cardiopatia congênita, cuja consequência lhe seria fatal, não ultrapassando os seus 5 anos.
Parecendo não satisfeito com tudo isso, começou a me acusar, afirmando-me de que eu tinha sido a culpada em gerar todo esse problema, pois uma mulher em condições de saúde igual à minha jamais poderia colocar no mundo uma criança, para tanto existe o controle da natalidade.
Demonstrou sua ira com mães que possam, por uma desventura qualquer, colocar no mundo uma criança com certas anomalias.
Fiquei arrasada, parecia que o mundo havia desabado sobre mim. Queria fugir daquele consultório. Chorando e carregando uma culpa, eu tinha a certeza que mãe alguma em sã consciência colocaria no mundo um filho para sofrer.
Chocados, mesmo assim resolvemos fazer todos os exames por ele exigidos. Foram feitos uma série enorme deles, ou seja, sangue, urina, fezes, chapas de crânio, eletroencéfalograma, cariótipo, cromossômico, etc. Ao findar um mês obtivemos o resultado. Nosso filho era portador de Síndrome de Down.
Após nos comunicar o resultado, sugeriu-me o referido médico que eu fizesse os mesmos exames, oficializando assim, a minha culpa e dizendo que meu marido não precisaria fazê-lo, pois pelo resultado, constatou que realmente o motivo do mal de meu filho tinha vindo de mim.
Sem que percebêssemos estávamos entrando numa corrente sem fim, num círculo vicioso, no qual nos cobravam o que queriam e para o bem de nosso filho, fizemos todo tipo de sacrifícios para podermos pagar tais exames.
Posteriormente, encaminhou-nos a uma fisioterapeuta na qual eu o levava 3 vezes por semana. Não me era permitida a entrada, mas da sala de espera eu ouvia meu filho chorar e gritar. Eu não sabia o que estavam fazendo com ele.
Pedia explicação e disseram-me que não me preocupasse, pois o mesmo iria se acostumar com a tia que o tratava, e isto era muito normal.
Tendo passados alguns meses, a médica e a fisioterapeuta chamaram-me e assim falaram : seu filho infelizmente está regredindo e eu a aconselho a colocá-lo num local para crianças iguais a ele. Deu-me a entender um pouco mais sutilmente o que o médico anteriormente havia citado, que assim fazendo estaria realizando um bem ao nosso filho, e eu como mãe iria sofrer menos, pois ficaria distante dele, pois fatalmente um dia eu iria rejeitá-lo.
Nada lhes respondi e dali saí na certeza de não mais voltar.
Cheguei em casa novamente em prantos, e não me conformando com a ideia, fiz meu marido, naquela mesma noite, me levar à casa de meu obstetra. Levamos Luizinho conosco, fazendo que o mesmo visse nosso filho e sentisse nosso problema. Saímos de lá mais aliviados, pois ele se colocara totalmente contra todos os diagnósticos dados, e em nossas mentes pensávamos que ele assim fizera para nos acalmar e por ser muito nosso amigo.
Dai-nos força, MEU DEUS ! "
Continua...
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