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CAPÍTULO 16 - ROMANCE LUIZ E LUICA

2 de maio - 17h03

" Havia se transcorrido pouco mais de três anos e meio mais ou menos e com todo um trabalho rudimentar feito, eu contrariava todo um prognóstico médico. Pelo simples fato de meu filho descer as escadas sentado, demonstrava ter ele noção de perigo. Pode parecer pelas narrativas feitas por mim, que eu tivesse sido uma grande heroína. Voltarei um pouco no tempo, tentando transmitir os meus sentimentos e minhas ações.

No início realmente, revoltada, considerava-me com forças suficientes para vencer a batalha. Aos poucos porém, fui me sentindo fraca. Não tinha estrutura física, nem psíquica, e nem tampouco me sentia preparada pelo simples fato de ser mãe de um excepcional. A palavra rejeição martelava minha mente. Estava perdendo o raciocínio, fazendo tudo automaticamente. Não tinha me conscientizado ainda o que estava acontecendo e que consequência traria.

A única coisa que me fazia continuar, como já narrei, era o grande amor que dedicava ao Luizinho, mas ao mesmo tempo tentava fugir dos meus problemas, fugir de mim mesma, de meus próprios pensamentos e de minhas emoções. Tinha um terrível medo de um dia vir a rejeitá-lo, envergonhando-me dele.

Quando alguém comparava suas atitudes com as de outras crianças normais, sentia desejos de agredir nem sei de que forma as pessoas que isso faziam.

Cheia de fobias, meus complexos aumentavam, meu filho melhorava e eu piorava, segundo por segundo. Tive momentos de vacilações e sentia fraquejar em meu empreendimento. Nesses momentos de vacilação, eu tinha depressão e angústia, que me levavam à apatia. E assim não podendo ficar, pouco a pouco, comecei a misturar calmantes com bebidas alcóolicas, as quais juntos em lugar de me relaxar, me excitavam.

Não satisfeita com isso comecei a usar e abusar de comprimidos para emagrecer. Somente assim, tinha a coragem em continuar, deixando que meus pensamentos não pudessem me atrapalhar. Além disso, não podia me sentir cansada, pois quando Luizinho dormia, tinha outras ocupações a realizar dentro do meu lar.

Passei a ter medo de dormir e assim sendo, das pílulas para emagrecer, num curto espaço de tempo passei a usar drogas mais fortes.

Quando essas começavam a perder o efeito, sentia-me numa depressão horrível e consequentemente, a ansiedade.

Desta maneira aumentava as dosagens por minha conta, chegando ao clímax do vício, e entendam , não era cocaína, etc... e sim remédios muito fortes, psicotrópicos. Que não deixam de ser drogas.

É duro confessar publicamente isso, pode parecer até vergonhoso, mas o faço hoje de cabeça erguida, tentando ajudar alguém que possa estar sentindo os mesmos sintomas que eu senti.

Passava as 24 horas do dia completamente dopada, embora tentasse disfarçar ao máximo. Meu comportamento se modificou totalmente. Da Luica meiga e dócil, tornara-me agressiva, com atitudes de total desequilíbrio, fazendo várias coisas ao mesmo tempo. As pessoas que eu mais amava no mundo, foram as que eu mais agredia. Para um exemplo de transfiguração física e mental que eu não percebia, cito uma passagem ocorrida com minha filha.

Ela gostava muito de me ajudar e de trocar seu irmaozinho. Numa determinada noite, eu, procurando-o como uma louca dentro da casa, que era muito grande, encontrei-no no quarto de INABEL , onde ela carinhosamente trocava-lhe as fraldas. Sentí-me irada contra ela, dizendo-lhe que se ela estava pensando que tomaria meu lugar, não iria conseguir.

Disse-lhe isso aos berros e puxando violentamente Luizinho de suas mãos. Não sei dizer como estavam minhas feições, somente soube através do Luiz Antonio, o terrível medo qie INABEL passou a ter de mim, afirmando ainda, que minha aparência lhe dera a nítida impressão de que eu era um vampiro.

Cenas como essas passaram a ser constantes em nosso lar.

Sentia que todos, aos poucos se afastavam de minha presença.

Perdi muitos amigos, a própria empregada, restando apenas meu marido. As drogas, remédios psicotrópicos aumentavam mais e mais, até que eu própria já não suportava mais aquilo. Minha cabeça parecia explodir, tentava me relaxar, mas me encontrava tão elétrica que não conseguia. Nossa casa parecia um inferno. "

 

Continua nos próximos dias ...

 

 

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