" Perdi noções de higiene e de educação. Era um farrapo.
Aos poucos fui perdendo também, os preceitos de moral de família.
Luiz Antonio percebendo que o tratamento psiquiátrico não estava dando resultados positivos, começou a me proibir de entrar em contato com o médico. Numa manhã, lembro-me bem, eu desesperada e fora de mim , comecei a insistir que lá ele me levasse.
Diante de suas negativas, raivosa, lhe disse que estava apaixonada por aquela criatura, que tinha sido uma pena não o ter conhecido antes do meu próprio marido, e que desejava vê-lo por mais uma vez apenas.
Luiz Antonio ouviu calado e me respondeu apenas, que eu deveria em primeiro lugar me cuidar e que depois disto feiro, já totalmente curada, eu poderia fazer de minha vida o que quisesse, pois no estado em que me encontrava, pessoa alguma iria desejar ficar comigo.
Tenho certeza absoluta, de que se fosse um outro homem, que não estivesse suficientemente preparado, ouvisse isso dos lábios de sua própria esposa, teria dito: vá. A porta da rua está aberta e esqueça-se que um dia você teve um lar, dois filhos e marido.
Se assim ele agisse, eu teria rolado para o fundo do poço, a fim de matar meus desejos pelos malditos remédios, pelas drogas. Consequentemente, já não estaria mais aqui, pois qualquer que seja o vício, leva a criatura prematuramente à morte.
Para minha infelicidade maior, INABEL passava diante do quarto naquele exato momento, e ouviu eu dizer ao pai, pessoa que tanto amava e admirava, que eu amava outro homem.
Seu coraçãozinho de apenas 13 anos de idade, cheio de amor para transmitir, com essa mesma força de amor que possuía, passou a me odiar.
A partir dali não mais entrava em meu quarto, e quando por lá passava, simplesmente me dizia um OI desprezivo.
Esse OI me doía na alma, mas, mais uma vez, eu me acovardava diante de mais uma derrota. Não tinha acoragem de pedir-lhe que entrasse, que se sentasse em minha cama, que eu precisaria contar-lhe muitas coisas e que desejava seu amor.
Por mais que Luiz Antonio tentasse lhe explicar o que estava acontecendo, pedindo-lhe que me procurasse, ela tornou-se irredutível. E assim tudo piorava.
Minha visão estava piorando novamente.
Eu via e ouvia coisas que não existiam. Um enorme guarda-roupa embutido em meu quarto, por exemplo, que era todo entalhado, de belíssima madeira, me representava vários caixões com defuntos. Outro exemplo, tinha sempre a ideia fixa que alguém havia entrado em casa, a fim de me pegar. Mania de perseguição.
Quase que me arrastando perambulava, como uma sonâmbula , madrugada adentro por aquela mansão, que era nosso lar. Sentava-me nas escadas , de frente à uma janela enorme, a casa toda escura e ficava horas e horas olhando o vento balançar as plantas de nosso jardim e a rua deserta. Só o guarda noturno rondava a mansão.
Era uma morta viva e eu tinha de tudo. Meu marido com sua empresa de corretagem, e que sua especialização era compra e venda de indústrias. Não nos faltava dinheiro, e sim sobrava, com isso Luiz Antonio guardava mais e mais.
Numa dessas madrugadas, já quase ao amanhecer , quando ao meu quarto me dirigia, a porta do mesmo encontrava-se meio entre-aberta, eu pude ouvir pela primeira vez meu marido chorando.
Entre soluços ele dizia, como se estivesse conversando com Deus, pedindo que "ELE" o ajudasse e me iluminasse a ponto que eu tivesse forças suficientes para deixar de depender daqueles malditos remédios, anfetaminas, que estavam acabando com nossa família. Dizia também, que já não mais aguentava aquela situação, encontrando-se a ponto de desistir. "
Continua nos próximos dias ...
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