" Luizinho recordava fatos distantes de sua infância com nitidez, com tal clareza, que ficávamos boquiabertos. Cenas em que na época não falava ou andava e nos narrava sem muitas dificuldades. Ao mesmo tempo que isso acontecia, de mostrava desinteressado a fatos atuais, ficando horas num mundo somente seu, ou assumindo atitudes de seus heróis da televisão.
Percebíamos também, um certo desequilíbrio quando tinha que se movimentar mais rapidamente, e ao ficar excitado numa alegria ou irritação, descontrolova-se todo. Quando ficava contrariado , sentíamos que ele tinha dificuldades ao falar.
Gaguejava, balbuciava algumas frases cortadas, trocando sílabas. E como se nada ocorresse, voltava a falar quase normalmente. Sabíamos que isso não poderia ser normal, mas eu relutava em levá-lo a um especialista.
Além disso, minha mãe ao fazer exame ginecológico, foi constatado um câncer. Mais um rude golpe, pois o mesmo já atingia outros órgãos vitais.
Preocupada com ela e o tratamento seria feito em São Paulo, passei longos meses fora de casa.
Durante esse tempo, Luizinho piorou, fazendo coisas absurdas dentro de casa. Voltou depois de tanto tempo a urinar na cama. Defecava no chão do quarto tentando cobrir com o tapete. Começou a não querer ir mais à escola, e também não queria brincar com seus amiguinhos. Grudou-se mais à televisão, não obedecendo ordens de INABEL e Neide para que não assistisse tanto a programas nela passados, embora não obedecendo, continuava dócil como sempre.
As vezes que ia à escola, sua professora me contou que seu rendimento havia caído bastante, mas era compreensível, pois quase não via os pais, e a avó estava doente.
Percebíamos que Luizinho tudo fazia para nos chamar atenção.
Em junho , minha mãe veio a falecer. Deixando um vazio entre nós. A solidão por nós sentida foi muito grande, pois a partir dali, sentimos quanto é importante a uma família , a presença das pessoas que amamos.
Voltei a ter vida normal em nosso lar, podendo assim, refazer e tentar coordenar as lacunas deixadas.
Em consequência de tudo como se podia espera, Luizinho repetiu novamente de ano. Fomos chamados pela direção da escola e fomos alertados para que se nós quiséssemos que nosso filho acompanhasse sua classe, teria que no próximo ano , ter um reforço pedagógico, ou seja, estudar em tempo integral.
Foi aí que nossas preocupações voltaram, pois nós conhecíamos seus limites e possibilidades, e ficamos em dúvida em relação à uma carga horária mais extensa. Teria progressos realmente ?
Por mais que nos perguntássemos, tudo ficava novamente nas interrogações. Resolvemos assumir o problema buscando as respostas para nossas incertezas, novamente na medicina, pois agora eu me achava mais segura, emocionalmente, sem os traumas do passado, e sem restrições para qualquer tratamento médico ou psicológico necessários, que Luizinho tivesse que fazer.
Encontramos uma pediatra aqui de Santos, e expusemos o motivo de nossa visita. Como todos os pediatras que haviam o examinado, ela nada notou de anormal, pelo menos na aparência de nosso filho, embora ficara ao par de todo diagnóstico de passado. Demonstrando um amor profundo à profissão que exerce e sentindo nossas dúvidas, nos aconselhou e também se prontificou a nos acompanhar a um médico de São Paulo, a fim de refazermos todos os exames genéticos, e assim, de uma vez por todas tirarmos nossas dúvidas em relação ao Luizinho.
Ao mesmo tempo, nos encaminhou a um órgão municipal aqui de Santos, para que nosso filho fizesse alguns testes psicológicos. Os testes foram realizados, e pelos resultados, foi constatado que nosso filho seria uma criança limítrofe. "
Continua nos próximos dias...
Compartilhar post nas redes sociais: