" Tudo começou com a abertura do armário.
O cheiro de coisas guardadas e pouco mexidas.
E lá estavam eles - os sapatos de todos os tipos e saltos, incluindo as sandálias coloridas.
Se pudessem me ver e falar diriam- pensei que tinha morrido e nos abandonado nessa solidão, sem passos firmes por calçadas sem fim, sem salões de baile, sem o glamour costumeiro e sem os olhares de admiração pelos modelos.
E comecei a tirar das caixas para uma higienização e vieram outras referências vindas a se juntar às observadas pelos próprios sapatos.
Foram eventos intermináveis, claro que os mais marcantes, aqueles que cravaram na alma os momentos de enlevo e de prazeres, até mesmo a hora de descalçá-los para a entrega de todo o corpo, em uma noite de reconhecimento pelo tato.
Agora, usando os chinelos de casa ou um único tênis para ir rápido ao supermercado e à farmácia, repousam com meus amigos sapatos, somente vozes, imagens e desejos cadentes.
Mas em um átimo vem a viva energia- eles não perdem por esperar, assim como eu, se moldando para logo desabrochar, mesmo que seja um salto do outono para a primavera. "
EUNICE TOMÉ
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